E foi assim que, repentinamente, tínhamos compromisso pro domingo. Acordar as 7 da manhã (depois de um aniversário tardio na noite anterior). Um lindo dia de sol (que, na verdade, ainda não tinha nem saído de trás da Cordilheira). Fazer a Maní comer. Colocar uma saia fresca e confortável. Fazer a mala. Esperar o Rubem. Pegar a estrada - agora sim com sol. Encontrar o combio num posto no caminho. E seguir pra Algarrobo!
E, seguindo pra Algarrobo, entrar no túnel mágico em que o clima sempre muda; dar de cara com aquele dia horrível e ir percebendo que não ia melhorar...o chovisco veio pra comprovar os temores!
Chegar na casa dos pais do Juan (o marido da prima do instrutor..rs) congelados de frio e, no meu caso, de medo!
(Nunca coloquei mais do que os dedos na água gelada do Pacífico, justamente por medo do frio - frio que se sente desde lá da areia mesmo! E olhar pro céu fechado e ameaçador conseguia dar mais frio do que o vento gélido que não parava de vir. Por que hoje???)
Pegar o carro de novo pra, agora sim, começar a aventura...
Chegar no lugar. Deixa mala no carro - longe. Conhecer os instrutores. Ouvir instruções. Preencher papéis (retirando deles as responsabilidades das tragédias que nos podiam acontecer). Responder (apreensiva) questionário sobre saúde ("tive uma contusão no cérebro há 17 anos, tem certeza que não importa?????"). Tirar a roupa. Passar mais frio. Sofrer pra colocar aquela coisa de borracha. Sofrer mais pra fazer ela passar pela bunda. Perceber que esqueci coisas importantes no carro. Fechar tudo por ali. Tirar foto.
Ir pro clube de iates. Subir na plataforma balançante. Começar a sentir mareo. Ver o mini barquinho em tenho que subir. Ser convidada a subir nele. Negar. Pensar com muita força em desistir ("já vi lá no vulcão que não sirvo pra essas coisas de aventura...pq raios eu insisto???"). Brigar com mais força pra não desistir. Subir no barco (com um discreto escorregão que me machuca o pé). Tentar de todas as maneiras possíveis ignorar o mareo que só aumenta (ele disse "los que se marean van primero al água"). Ouvir mais instruções e códigos e ensinamentos dos quais minha vida podia depender.
Perceber o barco parando. Torcer pra ele andar mais. Assistir, ansiosa, a movimentação dos instrutores. Ser escolhida pra primeira turma a bajar ("antes del mareo"). Lentamente começar a me aparamentar. Descobrir, com alívio que o instrutor chefe é o que vai me acompanhar. Receber ajudas pra terminar de arrumar tudo. Sentir o aperto do cinto com peso. Colocar a máscara e sentir um mini pânico pela falta de ar no nariz. Não conseguir respirar na boquilla. Ter a boquilla trocada e agora semi conseguir respirar na nova boquilla. Sentir muito medo do mareo. Sentir medo de vomitar bem ali onde todo mundo vai estar imerso.
Quase não conseguir ficar em pé no barco pelo peso do cilindro de ar. Sentar na beirada do barco. Me jogar pra trás. Morrer de medo antecipado pelo frio que viria. Cair na água. Não sentir frio. Não conseguir manter as pernas pra baixo. Ser puxada pelo instrutor. Treinar a respiração. Errar tudo. Continuar com as pernas de pata na superfície. Treinar mais a respiração a aprender o truque. Descobrir que na água - e com esses aparatos - tenho ainda menos controle sob meu corpo do que no mundo real. Ter meu pé empurrado pra baixo 25 vezes e ver ele voltar pra cima em menos de 7 segundos (contados) em todas elas. Segurar na corda da âncora. Encontrar meu instrutor - o Pablo.
Começar a descer - uma mão da corda, outra mão na mão do Pablo. Não enxergar nada no caminho (a água muito turva e o dia muito nublado). Descer um pouquinho de nada e sentir a pressão no ouvido. Seguir as instruções anteriores de como resolver o problema. Me concentrar muito pra acertar a respiração na boquilla. Descer mais um tico e pressão de novo. Apertar no nariz de novo. Pablo perguntar se está tudo bem. Confirmar e descer mais um pouco. Me sentir mais pata ainda por estar tendo tanto incomodo no ouvido, mesmo tendo descido tão pouco.
Pablo me soltar a mão. Me dar a outra mão num gesto de cumprimento. Eu não entender nada. Pablo apontar pra baixo. Olhar e ver.
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Ver e (figurativamente) perder o ar.
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Olhei pra baixo e lá estavam: uma alga maior que eu e a areia, o fundo do mar (ok, um mar de só 12 metros de profundidade, mas O FUNDO DO MAR)
E aí acabou a tensão, acabou o medo, acabou a náusea, nem vi o frio... e as coisas passaram a acontecer num tempo inexplicável... totalmente mágico!!!
A água turva dava um efeito incrível pro visual: olhar um monte de nada cor de areia e, de repente, encontrar vida a um metrô de mim! Algas, caranguejos, peixes e infinitas estrelas do mar!!!!
A ausência de sons externos chegava a ser inacreditável... Era como se eu estivesse sozinha ali, escutando apenas minha respiração através da boquilla (bem Datrh Vader..rs), sem sentir o peso do cilindro, ou do pé de pato, ignorando totalmente a mão do Pablo que seguia grudada na minha, esquecendo que o Lucas ia atrás de mim (a ponto de dar umas patadas nela de vez e quando)...
Ouvir só minha própria respiração, encontrar aquelas criaturas novas.... Nadar no nada...Quase meditar....A corrente do mar me levando (e a mão do Pablo tb, confesso.rs)... Melhor que yoga!
(em determinado momento eu estava tão relaxada que quase esqueci de fazer pressão pra manter a boquilla no lugar... rs)
Nenhum incomodo, nada errado, nada sofrido... só bom demais!!!
Até que meu marido gigante consumiu todo o ar do seu cilindro e tivemos que voltar pra superfície! hahahahaha
Foram 25 minutos em baixo da água - 12 metros abaixo do nosso mundo e do barquinho enjoante... e eu nunca imaginei que pudesse gostar tanto dessa experiência "de aventura"!
Subi encantada, parecendo criança com brinquedo novo, não parava de falar ("daí teve uma hora que... e aí...vc viu...?"). Por mim já programava imediatamente a viagem pro Caribe pra ir fazer isso num lugar com o visual abertão e cheio de peixes lindos e coloridos!!!
Apesar de não ter (re?)adquirido o controle sobre meu corpo (acho que se o Pablo tivesse me soltado eu me perderia na imensidão do Pacífico, lá embaixo, pra sempre! hahaha), recebi elogios dos instrutores, que, certamente, viam a alegria na minha cara!
Foi tão bom! Tão bom! Mas tão bom que quero fazer de novo, logo!!! E que recomendo que todo mundo faça também!! hehehe
ps.: faltam fotos, né?!... outros do grupo tiraram, vou tentar recuperá-las!