Pois é... a história de parar de doer no carro foi pura ilusão e o meu medo anterior foi justificado!
Os menos de 15 minutos até a Clínica foram os piores minutos do TP! Eu continuava sentindo a dor bem aguda e dentro do carro não conseguia me mexer de jeito nenhum que pudesse ajudar... Tentava "rebolar" sentada no banco mas não rolava...
A Sil tinha levado uma toalha de rosto molhada pra me ajudar com o calor, mas ao invés de usar como compressa, eu preferi usar como "rebozo... prendia uma ponta com as mãos e puxava a outra com os dentes! Acho que não ajudava muito com a dor, mas na hora do aperto era o que tinha... Fora que segurava uns gritos entre os dentes! rs
Doía muito e, diferente de como vinha sendo até então, nada ajudava a melhorar! Não sei como não chorei - mas soltei uns palavrões em voz bem alta porque tava
Também em voz alta começou a sair meu mantra: "Deixa ela vir...! Deixa ela vir...! Deixa ela vir..!!!". Era difícil não travar o corpo todo e lutar contra a dor! Eu respirava fundo (quando não travava a mandíbula na toalha.rs) e repetia "deixa ela vir...!" a cada expiração... e ia tipo fazendo "contagem regressiva" do caminho, implorando pra chegar logo!
Já tinham nos explicado como seria todo o processo de admissão na Clínica, então eu sabia que umas coisas chatas me esperavam...
Chegando na maternindade paramos na "zona de acojida" no estacionamento, onde ficam uns técnicos e um monte de cadeira de rodas - sim, é protocolo ter que entrar em cadeira de rodas! Ouso dizer que os técnicos e auxiliares de enfermagem dali não estão acostumados a receber grávidas naquela altura do TP...ficaram todos com caras assustadas ao me ver! E a auxiliar responsável por empurrar minha cadeira era nova na Clínica, não sabia direito pra onde ir ou onde ficava a sala e estava mais nervosa que sei lá o que!
Além disso, ficamos os três super atrapalhados com tudo que tinha pra pegar no carro... A Sil tava engraçada com um milhão de coisas penduradas por todo o lado e tudo meio querendo cair... - incluindo minha bola de pilates! hahaha
No trajeto da cadeira de rodas vi mais uma vez meu corpo trabalhando "como diz o livro": sabe-se que o frio inibe a secreção de oxitocina (principal hormônio responsável pelo TP). Pois bem.. os corredores da Clínica estavam MUITO gelados e eu fui tremendo de frio na cadeira de rodas...o lado bom (?) disso é que o TP foi realmente inibido e não me lembro de ter sentido nenhuma contraçãozinha nesse caminho...ufa! se no carro tava difícil, imagina na cadeira de rodas!
Encontramos a matrona no corredor e ela guiou a auxiliar inexperiente até a sala de admissão... era uma salinha de exames normal..maca, banheiro, pia, etc...
Quando levantei da cadeira já voltaram as contrações e a matrona ia esperando os (curtos) intervalos entre elas pra me pedir o que precisava de mim - que tirasse a roupa, que subisse na maca, etc...
Então ela fez um exame de toque (primeiro e único em toda a gravidez e trabalho de parto!!!) e disse "bien, Gabi, súper bien!", ouvi ela comentando com a enfermeira que tava por ali qualquer coisa sobre "um pouco de rebordo"! Acho que a Sil perguntou como estávamos e ela disse que com uns 9 cm de dilatação (!!!)...e felicitou marido e doula por terem conseguido me ajudar suficientemente bem pra chegarmos só nesse ponto na clínica!!!
Uma enfermeira veio atrás da gente pedir pra fazermos os papéis de admissão, o Lucas perguntou pra matrona quanto tempo ainda teríamos de TP, ela disse que achava que 1 hora e pouco e ele disse que então iria fazer a papelada... mas a matrona não deixou, disse que ele precisava ficar comigo! A Sil perguntou se ela poderia fazer e a enfermeira disse que sim, mas a matrona também não deixou! rs
Ela disse que iríamos subir e pediu pra enfermeira que alguém levasse os papéis até a gente - achei ótimo, não queria mesmo que nenhum dos dois tivesse que sair!!
Enquanto Lucas e Sil pegavam as coisas pra mudarmos de sala a matrona veio até mim, olhou nos meus olhos e disse meio baixinho "Gabi, sin anestesia, cierto?!" e foi a primeira vez que a existência da anestesia passou pela minha cabeça durante o TP!
No meu plano de parto eu dizia que queria ver até onde eu conseguiria ir sem anestesia e que se/quando eu quisesse teria que ser uma dose baixa pra eu poder continuar andando... eu tinha deixado a anestesia garantida e tava pronta pra passar um bom tempo lutando contra a vontade de pedi-la - não tinha nem combinado com ninguém pra não me deixar tomar, como já li que muitas grávidas fazem, porque eu queria deixar a possibilidade aberta... Tinha medo, aliás, de tentar resistir além do meu limite e acabar não "aproveitando" a experiência do parto, sabe?!
Mas quando começou o TP de verdade eu simplesmente esqueci que essa possibilidade existia! E esqueci porque não precisei lembrar! Tinha sido tão tranquilo até ali...
Aliás, tinha sido tão tranquilo que eu ainda tava esperando a coisa piorar muito!! Mas eu sabia que, do jeito que tava, dava pra levar na boa sem nem pensar em anestesia! Então respondi pra ela "sin anestesia!" e sentei na cadeira de rodas de novo!
Fomos então pra "Sala de Parto Integral" - uma sala de pré-parto, parto e pós-parto. Chegando lá eu já estava sentindo muita dor e não conseguia me concentrar em nada, mas a Sil me contou que a matrona já chegou ajeitando a sala: fechando as cortinas e baixando as luzes, ajustando o ar condicionado pra não ficar frio, erguendo a cama, etc...
Enquanto isso eu me apoiava do Lucas e tentava entender essa dor nova! A partir daí eu já era mais sensações do que pensamentos...
O nariz do Lucas, a matrona e a dor..rs |
(a Sil tinha descido pro carro pra levar a bola de volta e buscar umas coisas que faltaram...)
Continuando os procedimentos protocolares chatos vieram medir temperatura e tirar pressão e, pior, colocar um acesso venoso na minha mão...
Me lembro das mãos da matrona muito geladas (depois o Lucas me disse que ela tremia muito também) e a primeira vez que ela colocou a agulha errou feio...aquele negócio ficou me doendo - a ponto de incomodar mais do que a contração!! - e pedi pra ela arrumar.. o segundo não foi tão ruim, mas continuou incômodo (aliás, me incomodou por umas 6 horas, até deixarem tirar...)
Matrona colocando o acesso e eu já tentando encontrar outras posições |
O aparelho da pressão colocado, mas ela esperando passar a contração pra medir! |
Eu disse que tava com vontade de fazer xixi e fomos todos pro banheiro (a Sil diz que a matrona fez uma cara de quem sabia que não era bem isso que eu tava sentindo...rs), mas chegando lá não saiu nada... a matrona deu uma olhadinha, disse que tava vendo o cabelo da bebê (ou ela já tinha dito isso no exame de toque?? não lembro!) e pediu pra que eu saísse da privada pra irmos pra um lugar mais seguro pra Cecília! rs
Ela me perguntou se eu estava sentindo vontade de empurrar e eu disse que não...
Eu ainda achava que aquela dor era só uma contração aguda... e tinha lido em vários relatos de parto que quando os puxos começavam era como se as contrações sumissem e ficasse só uma vontade inconsolável de empurrar...o corpo fazendo força sozinho...era isso que eu tava esperando acontecer! Mas não era o que eu sentia!
Mesmo assim, depois que ela perguntou fiquei curiosa e resolvi aproveitar a contração seguinte pra dar uma empurradinha "pra ver qualé-que-era"... e, putz, a empurradinha aliviou a dor!!!
Aí eu disse: "acho que quero empurrar..posso??" (nessa altura eu já tinha desencanado do espanhol..falava em português e bem baixo..só o Lucas ouvia e traduzia...rs), a matrona respondeu que sim, mas ela tava meio longe, fazendo qualquer coisa...(lembro, por exemplo, de umas 3 vezes as enfermeiras quererem me colocar no soro e ela não deixar!!)
Então começaram uns minutos de angústia: eu tinha entendido que aquilo era vontade de empurrar, mas não fazia idéia de como fazer! E choramingava: "quero empurrar mas não consigo! Não sei fazer!". Sil e Lucas me apoiavam e diziam: "sabe sim! Se você tá com vontade, faz!" e eu pensava: "seu eu soubesse eu fazia..tô falando que não sei,
Até que um deles me disse: "solta seu corpo que ele sabe fazer, Gabi!".. e essa frase foi meio libertadora!
Faltava isso: como meu corpo não tinha "assumido o controle" na forma dos puxos involuntários e incontroláveis, eu precisaria me soltar, soltar o controle pra deixar meu corpo agir... e aí eu soltei!
Soltei e as pernas caíram, fui parar numa posição meio de cócoras e fui deixando, a cada contração, o corpo descobrir como empurrar - não foi fácil, não foi natural, não foi por instinto - eu não sabia mesmo!... e fui aprendendo a empurrar - aliás, em determinado momento a matrona colocou a mão no meu períneo e disse "empurra aqui, Gabi" e foi a melhor coisa...acho que só aí meu corpo entendeu direitinho o que tinha que fazer!
A matrona sugeriu que eu usasse a barra da cama pra me apoiar e foi ótimo!
A de Amor |
Fiquei um tempo empurrando assim - ainda no processo de aprendizagem e em algum momento ouvi a matrona ligar pro meu médico e pedir pra ele vir logo porque eu já tava empurrando! (depois me contaram que foram várias ligações nervosas pra apressar o médico - que tava a caminho da praia...ninguém esperava que eu estivesse tão "a ponto de parir"!!!)
Até que segui o pedi do meu corpo e inverti o lado:
A de Apoio |
(diferente dele, teve uma hora que o pediatra entrou na sala maior empolgado, gritando um "buenas tardes", até que percebeu a situação em que estávamos e ficou constrangido! hahahaha - isso me contaram..eu só percebi um barulho a mais rapidamente...rs)
Ficamos um bom tempo nessa posição...o médico me olhando, a matrona atrás de mim e o Lucas me apoiando - não sei onde tava a Sil e nem vi nenhuma dessas fotos ser tirada! Mas de quando em quando eu pedia água e ela me trazia!
Umas 3 ou 4 vezes a matrona veio com um dopler portátil escutar os batimentos cardíacos da bebê... Me disseram que rolava uma mini tensão na sala cada vez que ela encostava e ficava procurando o coração da Cecília...eu não percebia, mas lembro que respirava melhor - e com mais força pra continuar - cada vez que os batidos saíam baixinho daquela maquininha!
Depois de algum tempo assim a matrona veio falar comigo..me explicou que a cabeça da Cecília estava batendo no meu osso púbico e por isso não conseguiria passar naquela posição..me pediu pra virar e subir na cama.
Subi e fiquei sentada bem na pontinha, tão na pontinha que eu escorregava muito! O Lucas subiu na cama atrás de mim e me segurava pela axila, a matrona e a Sil ficaram responsáveis por apoiar cada uma um joelho meu (por isso não tem foto dessa parte) e o médico sentou na minha frente.
Não era confortável ficar escorregando (toda hora o Lucas tinha que me puxar pra cima de volta) e tive que reaprender a empurrar na nova posição...
Me disseram que fiquei muito tempo empurrando assim...com a cabeça dela prestes a sair, já meio coroando... Me ajudaram uma hora a me inclinar de um jeito que conseguisse enxergar (tinha uma barriga no meio do caminho! rs) e eu vi uma coisa preta, pontuda e gosmenta...não acreditei que aquilo era a cabeça dela, achei que era uma gosma qualquer que ia sair antes! hahahaha Mas era sim a pontinha do cone cabeludíssimo que era a cabeça dela nesse momento!!!
Não sei quanto tempo foi e nem senti que foi tanto assim que empurrei "em vão"... só sei que em algum momento a matrona veio empurrar minha barriga e fiquei puta! rs Soltei um grunhido qualquer, o Lucas entendeu o recado e pediu pra ela parar! Humpf! (viu como minha birra com "a matrona substituta" não era tão infundada assim??rs)
Aliás, fun fact: o Lucas atrás de mim tinha que fazer uma força contrária a minha pra não me deixar cair! Eu escutava ele respirar forte e ritmado e achava que fazia pra guiar a minha respiração...até teve uma hora que a matrona me pediu pra segurar o ar e eu ri, porque o ar que ela tava ouvindo soltar era do Lucas, não meu! rs Só depois do parto é que eu entendi que ele respirava daquele jeito porque tava bem difícil me aguentar, coitado...rsrs
Matrona e médico começaram então a me pedir pra empurrar com mais força e por mais tempo ("pujos muy fuertes y largos"), porque a Cecília não tava saindo!
Lembro de respirar fundo pra tentar me concentrar e de pedir pra ela "vem, filha..vem!!!" a cada vez que segurava o ar e empurrava com muita força!!! Eu pedia porque estava cansada e queria que terminasse logo, mas, mais do que isso, porque aquela ansiedade que não tinha vindo a gravidez inteira finalmente tinha tomado conta de mim: eu queria minha filha no meu colo e eu queria AGORA!!!
Mais uns puxos assim e, finalmente, senti a cabeça dela saindo!!! Não senti o tal círculo de fogo queimando, mas lembro que a contração em que a cabeça saiu foi bem mais forte e dolorida do que as anteriores - enquanto tava nessa de empurrar já não sentia a dor aguda das contrações (empurrar aliviava, lembra?)...mas essa contração específica eu senti direitinho - senti a onda começar a vir, senti doer e consegui usar isso pra empurrar a cabeça da minha filha pro mundo!
Vi uma movimentação do médico mas não prestei muita atenção...respirei fundo, "descansei" e esperei a contração seguinte, quando empurrei mais um pouco e saiu o resto do corpinho, com aquela sensação de "quiabo escorregando" que todo mundo fala! Uma delícia!!! Pluft!!! Cecília havia chegado!!!!
Ufa!!!!
O resto fica pra amanhã!! ;)
(continua aqui)
Sempre digo que não terei coragem de ter parto normal... Mas vc está mudando minha opinião... LINDONA!
ResponderExcluirQue ótimo, Cá!!!
ExcluirTem um monte de vídeo e relato de partos lindos por aí... vale a pena repensar...
Aliás, acho que coragem é o menos fundamental, viu?! rs
Beijão!!
Eu sempre venho aqui no seu blog e raramente comento, mas esse relato, ah que coisa mais linda. Curiosa pra ler o resto !
ResponderExcluirBom saber que você está por aqui, Luciene! =)
ExcluirBeijo e obrigada!!
Ooooomg! Chorei! Sempre me emociono com relatos de parto. Depois de ter parido, então... E agora o resto, conta conta conta!
ResponderExcluirBeijos queridona!
Putz...não tinha pensado nisso... se eu já chorava antes, quero só ver o próximo relato que lerei... hehehe
ExcluirBeijão, Gabi!
Ahhhh! Eu li este relato 4 parecendo uma louca que tá descobrindo o segredo do tesouro escondido. Maridex se arrumando pra ir pro trabalho rindo da minha cara. Gabi, muito obrigada por compartilhar conosco como foi este momento tão íntimo e importante da sua vida. É tão lindo!!!
ResponderExcluirBeijos, Rita
Hahaha!!! Adorei!
ExcluirEu que agradeço vocês por caminharem comigo nessa história! =)
Beijo
Que lindo acompanhar cada segundo!!! Amei Gabi!!! v/c foi muito forte!!! Guerreira... parabéns!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Tudo lindo demais... beijos para os três!!!
ResponderExcluirBrigadão, Jé!
ExcluirBeijos nossos
Amei! Estou amando! Super realista, pé no chão, pouco romantizado, muito real, o teu relato tem sido fantástico, Gabi. Esse negócio de que a gente sabe empurrar pq vem o instinto, eu sempre duvidei que fosse assim para 100% e vc foi muito transparente em dizer a real. Lindo.
ResponderExcluirAgora me conta (curiosidade de quem vai passar por um destes daqui 7 meses): quando empurra e não sai (a fase de ficar empurrando), é desesperador de dolorido? Dói o períneo, dói o corpo, parece que vc está sendo rasgada ao meio??? Hein?
Beijos grandes!!
Que bom que dá pra sentir a honestidade, Dani..fico feliz! =)
ExcluirOh, não senti isso tudo aí, não... eu sentia ela vindo e voltando (manja intestino preso??? hahaha), mas não doía o períneo, não ardia... pelo menos não que eu me lembre - e acho que se me sentisse rasgada ao meio, me lembraria!! rsrs
Beijo grande!
Muito real
ResponderExcluirtipoo vc contando é a coisa real mesmo
não tem aquele envolvimento
foi tudo q vc sentiu mesmo
Parabens mamãe
vc foi corajosa e forte em todos os momentos
bjãoooo
Sim..tentei ser bem honesta!! =)
ExcluirBeijo e obrigada!