terça-feira, 11 de março de 2014

"Mirem-se no exemplo"

No sábado, dia 08/03, Dia Internacional da Mulher, eu comecei a escrever esse post aqui:

"Vi esse vídeo no facebook hoje:



No final rola uma mensagem de "feliz dia das mães", mas ele tá rodando hoje especialmente com um "Q" de "feliz dia das mulheres"!


Vi e dei risada, como imagino que aconteça com todo mundo - ou toda mulher (rs) - que o assista, mas fiquei com uma pulga atrás da orelha...


Mais tarde, pensando melhor, entendi o que me incomodava: é que um vídeo como esse acaba sendo mais uma ferramenta pra perpetuação do sistema obstétrico como está hoje. Assim como nas novelas e num montão de filme por aí, esse vídeo está dizendo: "olha como parir é horrível e sofrível e sofrido!!!"

Essa noção é mais do que um senso comum, é uma certeza que TODO MUNDO tem!
E essa certeza é um fator super importante no número absurdamente errado e grande de cesáreas que acontecem no Brasil (e no Chile!) atualmente! Porque, afinal, se parir é tão terrível, aproveitemos as maravilhas da medicina moderna e "salvemos" as mulheres desse sofrimento todo, não é?!

Não, não é!


E digo que não é com a propriedade de quem aprendeu muito sobre o assunto nos últimos meses!

Aprendi vivendo na pele, claro,  mas também estudando sobre o assunto. Lendo tudo que caísse na minha frente sobre parto, e depois procurando mais pra ler, vendo vídeos de parto, vendo debates, depoimentos, documentários..."

Mas aí Cecília começou a chorar, logo tivemos que sair.. E o negócio acabou ficando na metade, pra eu ir terminando aos poucos...

Eu pretendia seguir o post contando como parir é maravilhoso e como, apesar de ter sentido bastante dor, em nenhum momento eu sofri durante o trabalho de parto! Pretendia contar como é possível - e importante - significar a dor do parto e separá-la totalmente do conceito de sofrimento, vivê-la de uma forma totalmente diferente da que é sempre retratada por aí...

Mas aí, enquanto eu ia escrevendo meu post de picadinho, caíram dois textos incríveis na minha frente, dois textos que diziam exatamente o que eu estava tentando dizer.

Ontem a Gabi Sallit, do DáDáDá, publicou esse texto aqui. E hoje a Marina, do Só Até Amanhã de Manhã, lembrou desse texto aqui, da Ligia Moreiras Sena, do  Cientista Que Virou Mãe.
E essas duas são tão fodas ótimas, que tudo que eu fui escrevendo depois pareceu ruim e/ou insuficiente! Por isso desisti do  meu texto esquizofrênico, resolvi deixar os links pra vocês lerem (sério, leiam!!!) e contar um pouquinho de porque parir mudou a minha vida!


Eu, que não consegui nascer de parto normal; eu, que nasci toda torta e tive (tenho) que lidar a vida inteirinha com os problemas da minha coluna com todos os defeitos do mundo (fisioterapia, rpg, natação, colete ortopédico na adolescência, dores crônicas, etc..); eu, que tenho um dedo feio, que tenho um pé enorme, magrelo e cheio de dedos muito longos; eu, que sou toda atrapalhada, que não tenho controle dos meus membros e não sei andar direito; eu, esse corpo defeituoso...

Eu, que sou péssima pra tomar decisões e pior ainda pra assumir meus desejos e brigar por eles; eu, que quase nunca consigo terminar algo que começo, que quase nunca consigo encontrar algo que me apaixone e me faça investir energia de verdade; eu, que nunca descobri uma vocação nessa vida; eu, que sempre fui da passividade, de evitar discussão, de preferir não dar opinião; eu, que cansei de deixar "meu jeito" de lado, pra evita a fadiga ou o conflito...
Eu...



Pois é... eu sou tudo isso aí em cima, mas fabriquei, gerei e pari a bebéia mais linda desse planeta! 
Eu, que quando descobri qual era o melhor jeito de trazer minha filha ao mundo, me apaixonei, abracei "a causa", estudei, me dediquei, briguei, argumentei... Só sosseguei quando achei que tinha garantido tudo o que podia garantir desse momento tão incerto...
E quando chegou a hora de fazê-la vir, encontrei uma força e uma confiança que eu nem sabia que podia ter e agarrada a uma tranqüilidade deliciosa (e ao meu marido querido! rs) fiz minha parte um pouco como tinha planejado, mas, especialmente, fiz respeitando o que eu sentia que tinha que fazer! Encontrei uma Eu sábia, serena, preparada, decidida e capaz! Uma Eu que chegou até ao final exatamente como sonhou chegar - e com um resultado lindo, lindo no colo!

E quando, depois do parto, ouvia das pessoas que tinha sido corajosa e guerreira achava, honestamente, que elas estavam exagerando... E ainda acho!
Não precisei de coragem nem de garra pra parir minha filha num parto natural, sem intervenções e sem anestesia... 
Precisei, isso sim, de informação, de conhecimento, de razão, de amor, de apoio, de força, de determinação, de vontade e de mais amor! E encontrei tudo isso em algumas pessoas especiais à minha volta mas, pricipalmente, em mim mesma! 
E descobrir que essa outra Eu existe dentro de mim mudou a minha vida! 
Mudou a maneira como me vejo, mudou a maneira como me comporto. Mudou a forma como me mostro e como acho que mereço ser tratada. Mudou a forma como me coloco. Definitivamente influenciou minha forma de ser mãe. E de ser filha, de ser esposa..de ser mulher!

E, como disse a Gabi, essa é uma experiência pela qual eu gostaria que muitas outras mulheres pudessem passar! Porque é intenso, porque é delicioso, porque é transformador! Porque nos faz mais fortes e mais mulheres!
Muito mais do que qualquer flor regalada no dia 08 de março ou do que "saber" que os homens não aguentariam a dor, diga-se de passagem...

Falo com a voz da experiência e CHEIA de orgulho das minhas capacidades!!! Eu pude e posso!

Vocês deviam experimentar... ;)
 

9 comentários:

  1. E deviam mesmo!!!!!
    Recomendo parir, niguém é menos mãe por parir ou ser cesarada...mas EU, Mariana, sou muito mais mulher depois de parir dois filhos....muito mais!!!!! Parir faz bem pro ego, dá força....

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    1. Faz MUITO bem pro ego, né?! É pra morrer de orgulho mesmo!!!
      (e, sim, podemos morrer de orgulho da gente sem estar alfinetando as outras...rs)
      bjs

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  2. Uau, que lindo esse post, Gabi!

    Que bom que pude te levar a um texto bacana sobre o assunto (eu já pensei em escrever sobre isso, mas esse da Ligia diz tudo né, kkkkkkk. O da Gabi tb é ótimo! - mas sim, ainda vou escrever a minha versão, só porque quero entrar no clubinho com vcs também, hahaaha).

    Sério, adorei suas palavras!
    Acredito muitíssimo nisso. E inclusive quando passei pela perda, que foi natural, as dores que eu senti não foram sofrimento. Juro juradinho, rs. Eu fiquei impressionada e ~me achando~, depois de uns dias, por ver como meu corpo funcionou e a natureza agiu lindamente. A ressignificação da dor é fundamental. E nos muda mesmo, pra melhor (do que éramos antes).
    Não vejo a hora de passar por isso com um bebê lindo e melecado no final, cheia de ocitocina. Deve ser incrível <3 <3

    Pronto, já falei demais, hehe
    Beijo grande em vocês!

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    1. A natureza é um negócio incrível mesmo, né, Má?! Tb acho lindo perceber que a gente é uma maquininha que funciona perfeitamente (mesmo que seja num momento não tão feliz...)

      Vou querer ler as suas palavras sobre o assunto!! ;)

      E, mais ainda, vou querer acompanhar de perto o seu momento de entrar pro clubinho (hahaha) - vc e Agnes vão arrasar, tenho certeza e não vejo a hora!!

      Beijão!!!

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  3. Gabi, tu foi foda também neste post! (Desculpa o meu francês!) To aqui aos prantos depois de ler as suas palavras.

    Eu já tinha visto este vídeo, ou talvez um similar, há muito tempo atrás, e eu não tinha pensado por este ângulo, que seria uma desculpa pra se fazer cesárea. Eu pensei que era a prova de que as mulheres somos muito fortes sim e também pensei que os dois marmanjos sentindo dor era só um sofrimento maluco pra eles. Mas uma mulher em TP enfrenta isso pra chegar mais perto o momento de ter seu bebê nos braços.

    Quero muito tudo isso que você falou aí pra mim! Quero passar pelo TP! Quero renascer!

    Beijos e muito obrigada por compartilhar tudo isso conosco,
    Rita

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    Respostas
    1. Falta pouco, Rita!!
      Logo mais chega a hora de vc e a Sementinha viverem essa aventura incrível juntas!!! Vai ser lindo!!

      Beijo e obrigada pelo carinho!

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  4. EU VOU EXPERIMENTAR!!!

    Ah se vou....... anota aí! Te escrevo em outubro contando do meu parto natural humanizado.

    Adorei o seu texto, vc escreve tão bem quanto todas elas.

    Beijos enormes!!!

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  5. Dani,
    Teu comentário me arrepiou até!! Vocé vai, tenho certeza!!!
    Estamos aqui pra te apoiar e ajudar no caminho e, principalmente pra comemorar e chorar muito de emoção com seu relato em outubro!!!

    Nós temos a força!!! ;)

    Beijo grande!!!

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  6. Deve dar muito orgulho mesmo parir, mas eu particularmente nao me vejo mais parindo rsrsrs, Guizinho nasceu de uma cesaria foi algo magico, mais bem sem graça devo confessar hahaha
    Beijo querida

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