Qualquer um que tenha irmãos, especialmente mais novos, já sentiu; e os que não sentiram, já viram nos filmes:
"meu irmão me irrita, é uma praga na minha vida, castigo eterno que meus pais me deram, etc, etc, etc... Mas ai de quem se atrever a fazer algum mal pro meu irmão!!! Não sobra nem pedacinho pra contar história, acabo com ele! Falar mal e agredir irmão meu, é privilégio MEU!!!"
Essa semana tive algumas brigas feias com o Chile e tive vontade de voltar correndo pros braços do Brasil. Quem diria, depois das intermináveis comparações de como minha vida é melhor por aqui...
Claro que nos momentos de raiva nem pensei que o Brasil tem uma burocracia terrível, que a violência em São Paulo é medonha, que o trânsito é um pesadelo...
E se nesses momentos alguém se atrevesse a tentar me lembrar alguma dessas coisas, tomaria na cara! Sem dó! Onde já se viu, falar assim do meu país?
Porque nessa semana o Chile é todos os nomes mais horríveis que eu conheço e o Brasil é minha lembrança boa, meu irmão que precisa ser protegido pra que possa me proteger.
Eu e o Lucas não temos planos de voltar a morar no Brasil e me ocorreu, durante essa semana de ódio ao Chilito, que esse plano carrega uma vantagem que eu nunca havia notado.
Morar fora do Brasil preserva em mim um país "lar", um colo pra eu ter pra onde voltar em momentos de briga, uma imagem bonita, nostálgica até, desse nosso país tropical, imagem que pode ser despida dos medos, preconceitos e críticas.
Acho que é parecido com quando a gente sai da casa dos pais. Já estamos na vida adulta, cada vez com menos espaço pessoal na casa que parece que não comporta tanta gente grande, irritados com o espaço e cansados das pessoas...
Nesse momento a melhor parte de sair é poder querer voltar depois. Não voltar de vez, mas voltar pra visitas específicas, pra matar a saudade repentina da comida da mamãe, da camisa bem passada pela empregada, do cheirinho de amaciante na cama limpa, das músicas escolhidas pelo pai...
Saber que ali não é mais seu lar de verdade, mas que é onde sempre estará uma parte da sua história e uma fatia imensa do seu coração.
Imagina então quando essa "casa dos pais" fica justamente nesse "Brasil"?
É bom ter vontade de voltar, é maravilhoso saber que você pode voltar (não consigo nem imaginar a angústia dos exilados), mas talvez, nesse momento, o mais importante seja não precisar voltar. Ter a segurança de que tudo isso está lá me esperando pra quando eu quiser ou precisar e continuar sendo forte pra resolver meus problemas (e minhas raivas) por aqui mesmo, sem correr e desistir de tudo e ficando muito bem com o abraço do marido e o skype com a mãe - colos deliciosos, diga-se de passagem!
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
"Deixa chover"
Fala-se muito sobre a poluição do ar de Santiago, ou simplesmente "contaminación", como eles chamam.
Sempre é notícia e todos querem saber como está o ar, se vai ou não haver restrição de veículos ou de lareiras e fogões a lenha; fogos de artifício são proibidos até no ano novo! Da minha janela posso avaliar a cada manhã a qualidade do que vou respirar só por contar quantos dos morros consigo enxergar no horizonte e tem dia que é assustadora a capa marrom que está no meio do caminho!
Mas desde que cheguei aqui o maior impacto que percebi no ar não foi a sujeira, mas sim a falta de umidade! É impressionante como isso aqui é seco!!!
No calor muito forte eu imagino que seja vantajoso você não ficar na dúvida se é você ou o ambiente que está transpirando, ou simplesmente conseguir transpirar e secar em seguida... mas nas temperaturas que peguei até agora...putz! Que seco!!! Nem as mil garrafas de água - que aqui viraram 2.000 - que tomo por dia dão conta de umedecer as coisas...rs
Tive que entrar numa rotina e numa disciplina que nunca tive e nem nunca desejei ter! Nos primeiros meses, enquanto seguia firme na teimosia antiga, minha mão ficou parecendo a de uma mulher de uns 50 anos e quando eu sentava podia sentir a pele da minha coxa se esticando, célula por célula...
Aí não teve jeito! Primeiro comecei a tomar banho com dove, sabe como é, 1/4 de hidratante e tal..torci pra que fosse o suficiente, mas não foi!
Passo seguinte: óleo sève... também fez pouca coisa..
Depois: sabonete líquido para pele extra seca... com esse eu comecei a sentir um pouco de diferença e aí me dei conta de que teria que me render de verdade!
Comprei cremes e mais cremes...uns 4 diferentes só pra mão, que deixo espalhados pela casa (quarto, banheiro, sala e bolsa) pra lembrar de passar o tempo todo! Pelo menos a aparência normal da pele da mão eu consegui recuperar!
Mas o ritual completo eu dou conta de fazer no máximo umas duas vezes por semana...porque...fala sério!
- Creme pros olhos;
- Creme pro rosto;
- Creme pra mão;
- Creme pro pé e
- Creme pro resto do corpo.
Pergunto: pessoas normais conseguem fazer coisas assim todos os dias????
Às vezes eu vou dormir me sentindo um pouco culpada, sentindo a secura no corpo, mas acho que esses são os dias em que meu lado "menininho" prevalece... Aquele mesmo lado que odeia fazer compras, gosta de carros e detesta altas concentrações de mulheres, especialmente conversando sobre assuntos femininos..
É quase como se eu tivesse um Buck - pra quem assiste Unites States of Tara - dentro de mim! (e se você não assiste e não sabe do que eu tô falando, vá assistir! É um dos maiores espetáculos de interpretação da televisão!!!)
E o meu Buck, que eu talvez chamasse de "Gabão" em homenagem a um amigo meu, simplesmente DETESTA os cremes todos!!! Ele lida há anos com o vício da manteiga de cacau e acho que com isso já se acostumou, ou simplesmente deixa a tarefa de reclamar sobre esse assunto com o Lucas...rs
Mas os cremes...ah, os cremes... Fico na dúvida se o Gabão detesta mais os cheiros que se misturam ou a textura macia-artificial que fica na pele! Coitado!
Pelo que parece ele vai que ter que aprender a lidar com essa sacanagem por pelo menos mais uns 15 meses, né?!
Quem sabe ele não se revolta e declara independência...
E falando em independência, domingo, dia 18, comemora-se as Festas Pátrias por aqui (sim, a independência) e desde o começo do mês essa cidade tá pior que o Brasil em Copa do Mundo! Juro!
Carros e casas enfeitados, prédios com suas bandeiras voando, bandeirinhas pelas ruas, gente vendendo coisas temáticas em cada semáforo, a Escuela Militar aqui do lado ensaiando loucamente (eu já sei as músicas da banda deles de cor...hahaha) e etc.
São diferenças assim que me surpreendem no povo Chileno com relação a nós brasileiros... a mesma capacidade que eles têm pra amar o Chile nas comemorações de setembro, eles têm pra ir pra rua brigar pela educação, ou pra se emocionar com a queda de um avião e a morte de 24 pessoas - uma delas, um apresentador importante da televisão.
Acho cada vez mais que as condições externas, além das históricas, claro, influenciam as pessoas mais do que a gente imagina. O Chile, esse paísinho comprido e bem delimitado, com a Cordilheira o isolando e o protegendo, com esse seu clima seco...
E as coisas aqui se sentem tão intensamente! Talvez porque eles estão só com eles mesmos, em um clima em que nem deles saí "água"... nem o céu Chileno, nem a população Chilena choram..
E da mesma maneira que o céu mantém a secura e a poluição, pra sangrar nossos narizes semanalmente, os chilenos retém as mágoas, as raivas e as dores, de forma que elas continuam a sangrar por ano e anos...
Faz sentido que eles gostem tanto do Brasil...terra de mares forte e quentes, que lavam sua alma, levando consigo seu peso e depois jogam tudo fora em uma bela tempestade de verão...
Sempre é notícia e todos querem saber como está o ar, se vai ou não haver restrição de veículos ou de lareiras e fogões a lenha; fogos de artifício são proibidos até no ano novo! Da minha janela posso avaliar a cada manhã a qualidade do que vou respirar só por contar quantos dos morros consigo enxergar no horizonte e tem dia que é assustadora a capa marrom que está no meio do caminho!
Mas desde que cheguei aqui o maior impacto que percebi no ar não foi a sujeira, mas sim a falta de umidade! É impressionante como isso aqui é seco!!!
No calor muito forte eu imagino que seja vantajoso você não ficar na dúvida se é você ou o ambiente que está transpirando, ou simplesmente conseguir transpirar e secar em seguida... mas nas temperaturas que peguei até agora...putz! Que seco!!! Nem as mil garrafas de água - que aqui viraram 2.000 - que tomo por dia dão conta de umedecer as coisas...rs
Tive que entrar numa rotina e numa disciplina que nunca tive e nem nunca desejei ter! Nos primeiros meses, enquanto seguia firme na teimosia antiga, minha mão ficou parecendo a de uma mulher de uns 50 anos e quando eu sentava podia sentir a pele da minha coxa se esticando, célula por célula...
Aí não teve jeito! Primeiro comecei a tomar banho com dove, sabe como é, 1/4 de hidratante e tal..torci pra que fosse o suficiente, mas não foi!
Passo seguinte: óleo sève... também fez pouca coisa..
Depois: sabonete líquido para pele extra seca... com esse eu comecei a sentir um pouco de diferença e aí me dei conta de que teria que me render de verdade!
Comprei cremes e mais cremes...uns 4 diferentes só pra mão, que deixo espalhados pela casa (quarto, banheiro, sala e bolsa) pra lembrar de passar o tempo todo! Pelo menos a aparência normal da pele da mão eu consegui recuperar!
Mas o ritual completo eu dou conta de fazer no máximo umas duas vezes por semana...porque...fala sério!
- Creme pros olhos;
- Creme pro rosto;
- Creme pra mão;
- Creme pro pé e
- Creme pro resto do corpo.
Pergunto: pessoas normais conseguem fazer coisas assim todos os dias????
Às vezes eu vou dormir me sentindo um pouco culpada, sentindo a secura no corpo, mas acho que esses são os dias em que meu lado "menininho" prevalece... Aquele mesmo lado que odeia fazer compras, gosta de carros e detesta altas concentrações de mulheres, especialmente conversando sobre assuntos femininos..
É quase como se eu tivesse um Buck - pra quem assiste Unites States of Tara - dentro de mim! (e se você não assiste e não sabe do que eu tô falando, vá assistir! É um dos maiores espetáculos de interpretação da televisão!!!)
E o meu Buck, que eu talvez chamasse de "Gabão" em homenagem a um amigo meu, simplesmente DETESTA os cremes todos!!! Ele lida há anos com o vício da manteiga de cacau e acho que com isso já se acostumou, ou simplesmente deixa a tarefa de reclamar sobre esse assunto com o Lucas...rs
Mas os cremes...ah, os cremes... Fico na dúvida se o Gabão detesta mais os cheiros que se misturam ou a textura macia-artificial que fica na pele! Coitado!
Pelo que parece ele vai que ter que aprender a lidar com essa sacanagem por pelo menos mais uns 15 meses, né?!
Quem sabe ele não se revolta e declara independência...
E falando em independência, domingo, dia 18, comemora-se as Festas Pátrias por aqui (sim, a independência) e desde o começo do mês essa cidade tá pior que o Brasil em Copa do Mundo! Juro!
Carros e casas enfeitados, prédios com suas bandeiras voando, bandeirinhas pelas ruas, gente vendendo coisas temáticas em cada semáforo, a Escuela Militar aqui do lado ensaiando loucamente (eu já sei as músicas da banda deles de cor...hahaha) e etc.
São diferenças assim que me surpreendem no povo Chileno com relação a nós brasileiros... a mesma capacidade que eles têm pra amar o Chile nas comemorações de setembro, eles têm pra ir pra rua brigar pela educação, ou pra se emocionar com a queda de um avião e a morte de 24 pessoas - uma delas, um apresentador importante da televisão.
Acho cada vez mais que as condições externas, além das históricas, claro, influenciam as pessoas mais do que a gente imagina. O Chile, esse paísinho comprido e bem delimitado, com a Cordilheira o isolando e o protegendo, com esse seu clima seco...
E as coisas aqui se sentem tão intensamente! Talvez porque eles estão só com eles mesmos, em um clima em que nem deles saí "água"... nem o céu Chileno, nem a população Chilena choram..
E da mesma maneira que o céu mantém a secura e a poluição, pra sangrar nossos narizes semanalmente, os chilenos retém as mágoas, as raivas e as dores, de forma que elas continuam a sangrar por ano e anos...
Faz sentido que eles gostem tanto do Brasil...terra de mares forte e quentes, que lavam sua alma, levando consigo seu peso e depois jogam tudo fora em uma bela tempestade de verão...
domingo, 11 de setembro de 2011
"É a vida"
Ontem acordamos com a notícia de que o marido da Carmen, uma senhora que trabalha com o Lucas, tinha morrido.
Ele estava muito doente há uns 8 anos já, mas na última semana uma pequena gripe levou seu problema no pulmão a um estado terminal e em menos de 5 dias ele se foi...
Eu não conhecia a Carmen e menos ainda seu marido, mas fiquei mal com a notícia. Definitivamente eu não sei lidar com a morte, com a perda de pessoas amadas e morro de medo só de pensar (ou saber) que isso faz parte da vida de todo mundo - ir e, pior, ficar.
O Lucas passou um bom tempo da manhã de sábado avisando todo mundo no banco, passando o endereço da igreja onde seria o velório e tal, e depois saímos pra fazer nossas coisas.
Ir buscar a carta de motorista do Lucas, comprar uma bolsa nova pra mim (à prova de roubos e sem traumas..rs), encontrar o melhor caminho de carro até minha faculdade, ir dirigindo até lá pra praticar e etc.
Por volta de umas 15h30 passamos em uma floricultura e fomos ao velório. Conheci várias das pessoas que trabalham no banco, conhecemos os filhos da Carmen, conversamos amenidades, abraçamos os familiares...
Ficamos algumas horas na igreja e eu me arrepiava e meus olhos enchiam de lágrima cada vez que a Carmen falava de como estava, da incapacidade de dormir, do medo de voltar pra casa, de entrar no quarto do casal, do estado de inanição em que ela se sentia... Não faria sentido algum pras pessoas ao meu redor, por isso segurei muitas vezes o choro que quase veio.
Choro pela empatia com aquela nova viúva, choro pela lembrança dos que já perdi e choro de medo!
(Não tenho medo de morrer, de verdade. Mas morro de medo da morte dos meus!)
Depois dessas horas na igreja reunimos um pequeno grupo e resolvemos fazer alguma coisa.
Primeiro fomos jogar sinuca. Depois, já que estávamos ali mesmo, jogamos uma hora de boliche. Em seguida, brincamos em várias máquinas do playland do shopping, máquina de dança, basquete, matar castores, pular, escolher nossa recompensa...
Por volta de onze da noite nos animamos pra ir dançar! Algumas ligações feitas e decidimos por um bar colombiano em que poderíamos comer comidas típicas e dançar uma boa música latina, onde resistimos bravamente até o dj resolver entrar nas músicas eletrônicas chatas de sempre. E ufa!
Foi um final de dia super eclético, diferente e divertido! Ótimos lugares, ótimas companhias, ótimas comidas...
Mas não pude não pensar de onde raios veio todo esse pique...
Tínhamos acordado cedo com a ligação sobre o marido da Carmen e não dormimos mais...mesmo assim emendamos um programa ao outro, nos divertindo de verdade.
Eu diria que esse é um jeito saudável de lidar com a morte: celebrar a vida!
Acho que todos ficam impactados com notícias assim, mesmo que não seja alguém próximo a você, porque nos faz ter que lidar com a noção da finitude da vida. E faz bastante sentido que, frente à finitude dela, resolvamos sair e aproveitar o que temos de vida nossa e o que temos de companhias.
Talvez a gente devesse celebrar a vida com mais freqüência, sem precisar desses chacoalhões nos assustando, mas sei lá, no dia a dia é mais agradável esquecer dessa necessidade (especialmente por causa do lembrete que ela traz) e seguir na normalidade....
No final das contas, talvez um pouco do susto e da graça esteja justamente na não permanência dessa sensação...
Ele estava muito doente há uns 8 anos já, mas na última semana uma pequena gripe levou seu problema no pulmão a um estado terminal e em menos de 5 dias ele se foi...
Eu não conhecia a Carmen e menos ainda seu marido, mas fiquei mal com a notícia. Definitivamente eu não sei lidar com a morte, com a perda de pessoas amadas e morro de medo só de pensar (ou saber) que isso faz parte da vida de todo mundo - ir e, pior, ficar.
O Lucas passou um bom tempo da manhã de sábado avisando todo mundo no banco, passando o endereço da igreja onde seria o velório e tal, e depois saímos pra fazer nossas coisas.
Ir buscar a carta de motorista do Lucas, comprar uma bolsa nova pra mim (à prova de roubos e sem traumas..rs), encontrar o melhor caminho de carro até minha faculdade, ir dirigindo até lá pra praticar e etc.
Por volta de umas 15h30 passamos em uma floricultura e fomos ao velório. Conheci várias das pessoas que trabalham no banco, conhecemos os filhos da Carmen, conversamos amenidades, abraçamos os familiares...
Ficamos algumas horas na igreja e eu me arrepiava e meus olhos enchiam de lágrima cada vez que a Carmen falava de como estava, da incapacidade de dormir, do medo de voltar pra casa, de entrar no quarto do casal, do estado de inanição em que ela se sentia... Não faria sentido algum pras pessoas ao meu redor, por isso segurei muitas vezes o choro que quase veio.
Choro pela empatia com aquela nova viúva, choro pela lembrança dos que já perdi e choro de medo!
(Não tenho medo de morrer, de verdade. Mas morro de medo da morte dos meus!)
Depois dessas horas na igreja reunimos um pequeno grupo e resolvemos fazer alguma coisa.
Primeiro fomos jogar sinuca. Depois, já que estávamos ali mesmo, jogamos uma hora de boliche. Em seguida, brincamos em várias máquinas do playland do shopping, máquina de dança, basquete, matar castores, pular, escolher nossa recompensa...
Por volta de onze da noite nos animamos pra ir dançar! Algumas ligações feitas e decidimos por um bar colombiano em que poderíamos comer comidas típicas e dançar uma boa música latina, onde resistimos bravamente até o dj resolver entrar nas músicas eletrônicas chatas de sempre. E ufa!
Foi um final de dia super eclético, diferente e divertido! Ótimos lugares, ótimas companhias, ótimas comidas...
Mas não pude não pensar de onde raios veio todo esse pique...
Tínhamos acordado cedo com a ligação sobre o marido da Carmen e não dormimos mais...mesmo assim emendamos um programa ao outro, nos divertindo de verdade.
Eu diria que esse é um jeito saudável de lidar com a morte: celebrar a vida!
Acho que todos ficam impactados com notícias assim, mesmo que não seja alguém próximo a você, porque nos faz ter que lidar com a noção da finitude da vida. E faz bastante sentido que, frente à finitude dela, resolvamos sair e aproveitar o que temos de vida nossa e o que temos de companhias.
Talvez a gente devesse celebrar a vida com mais freqüência, sem precisar desses chacoalhões nos assustando, mas sei lá, no dia a dia é mais agradável esquecer dessa necessidade (especialmente por causa do lembrete que ela traz) e seguir na normalidade....
No final das contas, talvez um pouco do susto e da graça esteja justamente na não permanência dessa sensação...
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
"No sinal fechado"
Primeiro os fatos:
Terça-feira eu estava no ônibus voltando pra casa, num misto de alívio com irritação (por acontecimentos pontuais e pelo meu espírito da semana), determinada a relaxar e curtir meu livro, sentada na frente da porta. Até que o ônibus pára num ponto, um moleque desce o colega dele agarra minha bolsa e desce correndo atrás dele!
Fiquei alguns micro-segundos parada, sentada ali com uma cara de inconformada, sem acreditar que aquilo tinha acabado de acontecer e por um impulso que não sei de onde veio, desci do ônibus. Mais alguns micro-segundos parada na calçada; tempo suficiente pra pensar: "quais as minhas opções agora? Não tenho celular, nem carteira, nem cartão do ônibus...acho um telefone público (raríssimo nessa cidade) pra avisar o Lucas e vou andando pra casa (não, eu não estava perto)". Mas aquele mesmo impulso de antes, misturado com um inconformismo ao máximo nível, me fizeram gesticular e gritar qualquer coisa (99% de certeza que em português). Eu ainda via os caras correndo na minha frente, e simplesmente não sabia o que fazer!
Até que vejo passando por mim, correndo, um menino que, tenho quase certeza que tinha acabado de descer do mesmo ônibus que eu, sacou o que tava acontecendo e saiu correndo atrás dos dois ladrões! Aí percebi que tinha que sair correndo atrás dele, que estava atrás dos ladrões, que estavam fugindo com a minha bolsa, que tinha todas as minhas coisas dentro.
Eles viraram a esquina e nós atrás, mais um quarteirão de correria e o meninos que estava me ajudando pára, me olha e diz: "não estou mais vendo eles!". Putz, de novo, "e agora?.
Aí me dei conta de que todo mundo na rua tava participando da história. Quando pensamos em parar um cara sai de dentro de um carro forte e aponta "eles foram pra lá" e todas as outras pessoas em volta também apontando e ajudando. Nessa hora surge um outro cara correndo, sei lá eu de onde, muito mais rápido que eu e o outro menino. Nós dois voltamos a correr também, mas já sem fôlego e ficando cada vez mais trás.
Até que esse segundo cara que entrou na correria - vou chamá-lo de Baiano, depois explico - surge dentro de um taxi, me chamando pra entrar. Agradeci o primeiro menino e corri pro taxi, que subiu na calçada, fez uma virada maluca e começou a ir atrás dos moleques.
Tinham sido duas quadras e meia correndo, depois mais uma e meia perseguindo eles no taxi até que vemos os dois virando outra esquina e o farol na nossa frente fechando. Pois o Baiano não pensou duas vezes: pulou do taxi, que ainda não tinha parado de vez, e saiu correndo. Quando o farol está pra abrir vejo que ele pegou uma carona numa moto, que não sei de onde surgiu, e ia, em pé nela, gesticulando e pedindo ajuda de outras pessoas.
Ele conseguiu pegar os dois, o taxista desceu atrás e juntaram mais umas três pessoas que estavam passando - uma delas de carro.
Eles deitam os dois no chão, o Baiano tira o cinto, o taxista vai até o carro pegar um cacetete e os dois começam a bater muito nos dois moleques.
E foi juntando gente, uns gritando "mata! mata!", uns gritando pra chamar a polícia e um menino, com uniforme de colégio pedindo pra eles pararem.A ponto de se jogar em cima dos moleques e levar umas pancadas também, pra conseguir fazer a pancadaria parar.
Eu, desesperada, tremendo mais do que sei lá o que, pedia pra alguém chamar a polícia, olhava pra todos os lados e ficava repetindo "que que eu faço? não sei o que eu faço!"
Os moleques já não estavam mais com a minha bolsa, disseram que tinha jogado no meio da caminho durante a perseguição (que nem fez o que roubou minha carteira na primeira semana aqui no Chile, lembram?)
Enquanto eles estavam todos preocupados em bater, xingar ou intimidar os moleques, eu só queria saber onde estava minha bolsa! No meio da correria eles deixaram cair a caixa dos meus óculos escuros, com eles dentro, e eu consegui "parar" pra recolhê-los. Mas e o resto das minhas coisas???
Bom, os moleques já estavam sangrando a essa hora e o Baiano - um cara baixinho e magrela - estava muito puto! Xingava muito os dois, dizia pra eles: "olha como vocês deixaram a menina!", chutava, gritava...tava bravo pra caramba!!!
Resolveram levar os moleques até uma esquina, sentaram os dois numa banca de jornal, tiraram tênis e cintos dos dois...
Algumas pessoas vinham me perguntar o que eles tinham roubado e se eu estava bem. Mas veio um senhor muito fofo (enquanto levavam os dois pra esquina), pegou no meu braço, pediu pra que eu ficasse calma, chamou uma mulher que estava participando da coisa toda e disse: "você entendeu que é dela que você tem que cuidar agora? Deixa que os outros cuidam dos dois..". Ela me pegou pelo braço e foi caminhando comigo até a esquina. Achei o gesto daqueles dois uma coisa linda!
Quando cheguei na esquina estavam chamando a polícia.
Bom, eu continuava querendo saber da minha bolsa, os dois apontavam onde tinha jogado e eu fui lá, acompanhada de um outro cara, pra procurar. Reviramos todos os arbustos que encontramos e nada da bolsa! Voltamos pra esquina e os dois insistiam que tava lá, então voltei a procurar. E nada!
Comecei a perguntar pras pessoas na rua mas ninguém tinha visto a bolsa, só os moleques passando correndo, mas não sabiam dizer se ainda estavam com a bolsa ou não.
O Baiano se irritou de novo e voltou a bater nos dois pra eles falarem onde estava a bendita bolsa; levantou um deles pra que ele fosse mostrar onde estava e eu fui indo na frente. Aí veio uma mulher falar comigo, com uma cédula de identidade na mão, me perguntando o que tinha acontecido. Ela perguntou meu nome, comparou com o documento que tinha na mão e disse que tinha achado a bolsa, jogada numa esquina anterior. Veio um pouco do alívio!
Corri pra trás pra avisar o Baiano que tinham encontrado a bolsa, que ele podia voltar com o moleque. E nessa hora o maldito do moleque vem querer colocar a mão no meu ombro pra me pedir desculpas! Que ódio!!!!
Voltei pra mulher que estava com a bolsa e tinha se juntado a ela uma outra senhora - elas trabalham juntas no lugar onde a bolsa tinha sido jogada - que ficava me dizendo: "eu já liguei pra lucas, você tem que falar com lucas". Eu achei que aquilo era algum outro apelido chileno pra "polícia" (serve polícia, carabineiro, paco...pq não lucas?) e respondia: "sim, já chamaram os carabineiros, eles estão vindo". Até que ela: "Lucas! Não é seu marido?"
Hahahahaha
Naquela confusão toda eu nunca teria pensado sozinha que o Lucas que ela estava falando era o meu Lucas ou como ela tinha conseguido falar com ele..hahaha
Elas acharam meu celular na bolsa e ligaram pra ele pra avisar que estavam com minhas coisas!
Me recomendaram que esperasse a polícia chegar antes de ir lá buscar a bolsa, pra não voltar pra muvuca com as minhas coisas todas. Me emprestaram um celular, de onde consegui falar com o Lucas, que já estava num taxi indo até mim!
Voltamos então pra esquina e a polícia estava chegando!
As coisas foram se acalmando, conversei um pouco com as pessoas que estavam ali ajudando. Descobri que o Baiano já morou em São Paulo um tempo e é casado com uma baiana - pronto, apelido explicado! Apesar de ele estar muito nervoso e de ter batido muito nos caras (violência com a qual eu não concordo), ele foi muito meu herói, era muito simpático e bacana!
Bom, os moleques foram colocados na viatura da polícia, a multidão se dispersou, o Baiano soltou seu último ato de raiva, jogando os tênis e cintos dos ladrões no meio da rua, um carabineiro foi com a moça buscar minha bolsa..
Os carabineiro pediram que eu fosse com eles até a delegacia, mas antes essa moça que achou a bolsa e o Baiano deram o depoimento deles ali mesmo, assinaram tudo e tal..Me abraçaram e foram cuidar da vida.
Falei com Lucas, passei o endereço da delegacia e combinamos de nos encontrar lá.
Entrei na viatura e só aí respirei fundo. Primeiro me acalmei. Depois fiquei com medo que me levassem pro mesmo lugar que os dois moleques.
Na delegacia não vi os dois, mas soube que estavam lá, que tinham 16 e 17 anos e que não era a primeira vez que roubavam, mas era a primeira vez que os pegavam em flagra, com o item roubado. Os policiais pareciam bem felizes de ter os dois lá.
Aí foi aquela burocracia, espera, depõe, assina, tiram fotos de tudo que tinha na bolsa, estimando preços das coisas mais valiosas...aceitar ir depor em tribunal caso isso vá pra juízo, o aviso de que se isso acontecer eles me fantasiam pra me colocar na frente do tribunal ("que nem filme americano", como disse o carabineiro).
E foi isso.
Chamem de mimada ou privilegiada, mas acho que essa foi a situação de maior nervosismo, maior medo e maior violência pela qual já passei. Violência pra todos os lados.
Enquanto os meninos eram espancados eu sentia muita raiva da situação; se não tivesse sentada tão perto da porta, se não tivesse tão distraída, se tivesse visto eles jogando a bolsa lá trás.....Nada daquilo estaria acontecendo!
Odiei e amei os chilenos muito forte ao mesmo tempo! Os dois moleques que me roubaram estavam muito bem vestidos e não eram peruanos ou bolivianos - como diz a lenda/preconceito daqui! Todas as pessoas em volta se envolveram e ajudaram, diziam que eles mereciam ser presos, ou continuariam fazendo a mesma coisa por aí e eu concordo plenamente! Mas não acho que tinham que ter batido tanto nos dois, como também não acho que eles vão de fato ficar presos - não por um roubo, sem ameaça ou agressão - como o policial fez questão de destacar.
Pois foi esse roubo, sem ameaça ou agressão que mexeu horrores comigo! Fiquei algumas horas tremendo. Estou até agora com dores no corpo - pelo nervoso e pela correria! Posso caminhar umas duas horas sem o menor esforço, mas não agüento correr nem 5 minutos. Correr desesperadamente perseguindo minha bolsa, então... destruiu minha garganta, eu sentia muito gosto de sangue na boca e estou ainda com uma tosse de cachorro morto!
Voltando pra casa, saímos pra jantar, tomei um banho e deitei.. achei que já estava mais calma. Mas, não...
Consegui dormir quase rápido, mas tive uma hora inteira cheia de pesadelos e imagens repetitivas rodeando minha cabeça. Aí acordei de vez e não dormia mais. Resolvi levantar e ler pra me distrair, mas quando peguei meu livro me lembrei que, na correria, tinha perdido meu marcador de páginas. E não era um qualquer, era um flyer do primeiro Baile do Baleiro que eu fui, em 2007. Tinha um significado especial pra mim! E eu acho que vi ele caindo e voando pra trás, mas não podia voltar pra buscar.. Que ódio!!! Foi só aí que caíram minhas primeiras, e poucas, lágrimas.
Logo que desci do ônibus achei que ia chorar, mas não chorei. Quando entrei na viatura da polícia de novo, e de novo, nada.
Na verdade, acho que estou entalada com isso até agora. Continuo sentindo frios desagradáveis na barriga, por exemplo quando liguei meu iPod e percebi que aquela música era a que eu estava ouvindo quando o maldito pegou minha bolsa. Ou quando achei a página do livro em que tinha parado no momento da confusão. Ou quando, em casa, abri minha bolsa pra procurar alguma coisa que eu sabia que poderia não estar lá, ou quando peguei pela primeira vez meus óculos escuros.
Ou quando eu penso que esses caras passaram mais de meia hora comigo, apanhando dos outros, indo presos, sentindo raiva. E que o ônibus em que eles me encontraram é o ônibus que eu pego todos os dias! Continuo vendo a cara de um deles quando penso no assunto e isso me arrepia - no pior sentido possível!
A conclusão dessa história toda é que é melhor eu começar a ir de carro pra faculdade.
Entre um medo e outro... acho que o trauma da violência foi maior.
Hoje, pela primeira vez, sai de carro, dirigindo, sozinha! Sem ninguém do meu lado pra prestar atenção e me prevenir das cagadas.
Fiquei mega nervosa, tremendo pra caramba. Mas nada comparado com o nervoso de terça feira... Espero que consiga superar os dois medos e que no final, alguma coisa de positivo venha disso tudo! (nessas horas eu invejo quem acredita de verdade que tudo na vida tem um sentido e uma razão de ser)
Ah! Claro que apesar de medo e nervosismo, acabou tudo bem! Recuperei minha bolsa com tudo dentro!
Terça-feira eu estava no ônibus voltando pra casa, num misto de alívio com irritação (por acontecimentos pontuais e pelo meu espírito da semana), determinada a relaxar e curtir meu livro, sentada na frente da porta. Até que o ônibus pára num ponto, um moleque desce o colega dele agarra minha bolsa e desce correndo atrás dele!
Fiquei alguns micro-segundos parada, sentada ali com uma cara de inconformada, sem acreditar que aquilo tinha acabado de acontecer e por um impulso que não sei de onde veio, desci do ônibus. Mais alguns micro-segundos parada na calçada; tempo suficiente pra pensar: "quais as minhas opções agora? Não tenho celular, nem carteira, nem cartão do ônibus...acho um telefone público (raríssimo nessa cidade) pra avisar o Lucas e vou andando pra casa (não, eu não estava perto)". Mas aquele mesmo impulso de antes, misturado com um inconformismo ao máximo nível, me fizeram gesticular e gritar qualquer coisa (99% de certeza que em português). Eu ainda via os caras correndo na minha frente, e simplesmente não sabia o que fazer!
Até que vejo passando por mim, correndo, um menino que, tenho quase certeza que tinha acabado de descer do mesmo ônibus que eu, sacou o que tava acontecendo e saiu correndo atrás dos dois ladrões! Aí percebi que tinha que sair correndo atrás dele, que estava atrás dos ladrões, que estavam fugindo com a minha bolsa, que tinha todas as minhas coisas dentro.
Eles viraram a esquina e nós atrás, mais um quarteirão de correria e o meninos que estava me ajudando pára, me olha e diz: "não estou mais vendo eles!". Putz, de novo, "e agora?.
Aí me dei conta de que todo mundo na rua tava participando da história. Quando pensamos em parar um cara sai de dentro de um carro forte e aponta "eles foram pra lá" e todas as outras pessoas em volta também apontando e ajudando. Nessa hora surge um outro cara correndo, sei lá eu de onde, muito mais rápido que eu e o outro menino. Nós dois voltamos a correr também, mas já sem fôlego e ficando cada vez mais trás.
Até que esse segundo cara que entrou na correria - vou chamá-lo de Baiano, depois explico - surge dentro de um taxi, me chamando pra entrar. Agradeci o primeiro menino e corri pro taxi, que subiu na calçada, fez uma virada maluca e começou a ir atrás dos moleques.
Tinham sido duas quadras e meia correndo, depois mais uma e meia perseguindo eles no taxi até que vemos os dois virando outra esquina e o farol na nossa frente fechando. Pois o Baiano não pensou duas vezes: pulou do taxi, que ainda não tinha parado de vez, e saiu correndo. Quando o farol está pra abrir vejo que ele pegou uma carona numa moto, que não sei de onde surgiu, e ia, em pé nela, gesticulando e pedindo ajuda de outras pessoas.
Ele conseguiu pegar os dois, o taxista desceu atrás e juntaram mais umas três pessoas que estavam passando - uma delas de carro.
Eles deitam os dois no chão, o Baiano tira o cinto, o taxista vai até o carro pegar um cacetete e os dois começam a bater muito nos dois moleques.
E foi juntando gente, uns gritando "mata! mata!", uns gritando pra chamar a polícia e um menino, com uniforme de colégio pedindo pra eles pararem.A ponto de se jogar em cima dos moleques e levar umas pancadas também, pra conseguir fazer a pancadaria parar.
Eu, desesperada, tremendo mais do que sei lá o que, pedia pra alguém chamar a polícia, olhava pra todos os lados e ficava repetindo "que que eu faço? não sei o que eu faço!"
Os moleques já não estavam mais com a minha bolsa, disseram que tinha jogado no meio da caminho durante a perseguição (que nem fez o que roubou minha carteira na primeira semana aqui no Chile, lembram?)
Enquanto eles estavam todos preocupados em bater, xingar ou intimidar os moleques, eu só queria saber onde estava minha bolsa! No meio da correria eles deixaram cair a caixa dos meus óculos escuros, com eles dentro, e eu consegui "parar" pra recolhê-los. Mas e o resto das minhas coisas???
Bom, os moleques já estavam sangrando a essa hora e o Baiano - um cara baixinho e magrela - estava muito puto! Xingava muito os dois, dizia pra eles: "olha como vocês deixaram a menina!", chutava, gritava...tava bravo pra caramba!!!
Resolveram levar os moleques até uma esquina, sentaram os dois numa banca de jornal, tiraram tênis e cintos dos dois...
Algumas pessoas vinham me perguntar o que eles tinham roubado e se eu estava bem. Mas veio um senhor muito fofo (enquanto levavam os dois pra esquina), pegou no meu braço, pediu pra que eu ficasse calma, chamou uma mulher que estava participando da coisa toda e disse: "você entendeu que é dela que você tem que cuidar agora? Deixa que os outros cuidam dos dois..". Ela me pegou pelo braço e foi caminhando comigo até a esquina. Achei o gesto daqueles dois uma coisa linda!
Quando cheguei na esquina estavam chamando a polícia.
Bom, eu continuava querendo saber da minha bolsa, os dois apontavam onde tinha jogado e eu fui lá, acompanhada de um outro cara, pra procurar. Reviramos todos os arbustos que encontramos e nada da bolsa! Voltamos pra esquina e os dois insistiam que tava lá, então voltei a procurar. E nada!
Comecei a perguntar pras pessoas na rua mas ninguém tinha visto a bolsa, só os moleques passando correndo, mas não sabiam dizer se ainda estavam com a bolsa ou não.
O Baiano se irritou de novo e voltou a bater nos dois pra eles falarem onde estava a bendita bolsa; levantou um deles pra que ele fosse mostrar onde estava e eu fui indo na frente. Aí veio uma mulher falar comigo, com uma cédula de identidade na mão, me perguntando o que tinha acontecido. Ela perguntou meu nome, comparou com o documento que tinha na mão e disse que tinha achado a bolsa, jogada numa esquina anterior. Veio um pouco do alívio!
Corri pra trás pra avisar o Baiano que tinham encontrado a bolsa, que ele podia voltar com o moleque. E nessa hora o maldito do moleque vem querer colocar a mão no meu ombro pra me pedir desculpas! Que ódio!!!!
Voltei pra mulher que estava com a bolsa e tinha se juntado a ela uma outra senhora - elas trabalham juntas no lugar onde a bolsa tinha sido jogada - que ficava me dizendo: "eu já liguei pra lucas, você tem que falar com lucas". Eu achei que aquilo era algum outro apelido chileno pra "polícia" (serve polícia, carabineiro, paco...pq não lucas?) e respondia: "sim, já chamaram os carabineiros, eles estão vindo". Até que ela: "Lucas! Não é seu marido?"
Hahahahaha
Naquela confusão toda eu nunca teria pensado sozinha que o Lucas que ela estava falando era o meu Lucas ou como ela tinha conseguido falar com ele..hahaha
Elas acharam meu celular na bolsa e ligaram pra ele pra avisar que estavam com minhas coisas!
Me recomendaram que esperasse a polícia chegar antes de ir lá buscar a bolsa, pra não voltar pra muvuca com as minhas coisas todas. Me emprestaram um celular, de onde consegui falar com o Lucas, que já estava num taxi indo até mim!
Voltamos então pra esquina e a polícia estava chegando!
As coisas foram se acalmando, conversei um pouco com as pessoas que estavam ali ajudando. Descobri que o Baiano já morou em São Paulo um tempo e é casado com uma baiana - pronto, apelido explicado! Apesar de ele estar muito nervoso e de ter batido muito nos caras (violência com a qual eu não concordo), ele foi muito meu herói, era muito simpático e bacana!
Bom, os moleques foram colocados na viatura da polícia, a multidão se dispersou, o Baiano soltou seu último ato de raiva, jogando os tênis e cintos dos ladrões no meio da rua, um carabineiro foi com a moça buscar minha bolsa..
Os carabineiro pediram que eu fosse com eles até a delegacia, mas antes essa moça que achou a bolsa e o Baiano deram o depoimento deles ali mesmo, assinaram tudo e tal..Me abraçaram e foram cuidar da vida.
Falei com Lucas, passei o endereço da delegacia e combinamos de nos encontrar lá.
Entrei na viatura e só aí respirei fundo. Primeiro me acalmei. Depois fiquei com medo que me levassem pro mesmo lugar que os dois moleques.
Na delegacia não vi os dois, mas soube que estavam lá, que tinham 16 e 17 anos e que não era a primeira vez que roubavam, mas era a primeira vez que os pegavam em flagra, com o item roubado. Os policiais pareciam bem felizes de ter os dois lá.
Aí foi aquela burocracia, espera, depõe, assina, tiram fotos de tudo que tinha na bolsa, estimando preços das coisas mais valiosas...aceitar ir depor em tribunal caso isso vá pra juízo, o aviso de que se isso acontecer eles me fantasiam pra me colocar na frente do tribunal ("que nem filme americano", como disse o carabineiro).
E foi isso.
Chamem de mimada ou privilegiada, mas acho que essa foi a situação de maior nervosismo, maior medo e maior violência pela qual já passei. Violência pra todos os lados.
Enquanto os meninos eram espancados eu sentia muita raiva da situação; se não tivesse sentada tão perto da porta, se não tivesse tão distraída, se tivesse visto eles jogando a bolsa lá trás.....Nada daquilo estaria acontecendo!
Odiei e amei os chilenos muito forte ao mesmo tempo! Os dois moleques que me roubaram estavam muito bem vestidos e não eram peruanos ou bolivianos - como diz a lenda/preconceito daqui! Todas as pessoas em volta se envolveram e ajudaram, diziam que eles mereciam ser presos, ou continuariam fazendo a mesma coisa por aí e eu concordo plenamente! Mas não acho que tinham que ter batido tanto nos dois, como também não acho que eles vão de fato ficar presos - não por um roubo, sem ameaça ou agressão - como o policial fez questão de destacar.
Pois foi esse roubo, sem ameaça ou agressão que mexeu horrores comigo! Fiquei algumas horas tremendo. Estou até agora com dores no corpo - pelo nervoso e pela correria! Posso caminhar umas duas horas sem o menor esforço, mas não agüento correr nem 5 minutos. Correr desesperadamente perseguindo minha bolsa, então... destruiu minha garganta, eu sentia muito gosto de sangue na boca e estou ainda com uma tosse de cachorro morto!
Voltando pra casa, saímos pra jantar, tomei um banho e deitei.. achei que já estava mais calma. Mas, não...
Consegui dormir quase rápido, mas tive uma hora inteira cheia de pesadelos e imagens repetitivas rodeando minha cabeça. Aí acordei de vez e não dormia mais. Resolvi levantar e ler pra me distrair, mas quando peguei meu livro me lembrei que, na correria, tinha perdido meu marcador de páginas. E não era um qualquer, era um flyer do primeiro Baile do Baleiro que eu fui, em 2007. Tinha um significado especial pra mim! E eu acho que vi ele caindo e voando pra trás, mas não podia voltar pra buscar.. Que ódio!!! Foi só aí que caíram minhas primeiras, e poucas, lágrimas.
Logo que desci do ônibus achei que ia chorar, mas não chorei. Quando entrei na viatura da polícia de novo, e de novo, nada.
Na verdade, acho que estou entalada com isso até agora. Continuo sentindo frios desagradáveis na barriga, por exemplo quando liguei meu iPod e percebi que aquela música era a que eu estava ouvindo quando o maldito pegou minha bolsa. Ou quando achei a página do livro em que tinha parado no momento da confusão. Ou quando, em casa, abri minha bolsa pra procurar alguma coisa que eu sabia que poderia não estar lá, ou quando peguei pela primeira vez meus óculos escuros.
Ou quando eu penso que esses caras passaram mais de meia hora comigo, apanhando dos outros, indo presos, sentindo raiva. E que o ônibus em que eles me encontraram é o ônibus que eu pego todos os dias! Continuo vendo a cara de um deles quando penso no assunto e isso me arrepia - no pior sentido possível!
A conclusão dessa história toda é que é melhor eu começar a ir de carro pra faculdade.
Entre um medo e outro... acho que o trauma da violência foi maior.
Hoje, pela primeira vez, sai de carro, dirigindo, sozinha! Sem ninguém do meu lado pra prestar atenção e me prevenir das cagadas.
Fiquei mega nervosa, tremendo pra caramba. Mas nada comparado com o nervoso de terça feira... Espero que consiga superar os dois medos e que no final, alguma coisa de positivo venha disso tudo! (nessas horas eu invejo quem acredita de verdade que tudo na vida tem um sentido e uma razão de ser)
Ah! Claro que apesar de medo e nervosismo, acabou tudo bem! Recuperei minha bolsa com tudo dentro!
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
"Tenho por princípios nunca fechar portas"
Tivemos os últimos dez dias com visitas em casa; já estava com saudades da casa cheia!
Na segunda feira chegou a primeira visita, super inusitada!
Minha prima, Luciana e seu namorado, Breno estavam de férias tiradas e tudo pronto pra ir pra NY, mas o furacão, ou quase furacão, que passou por lá no outro fim de semana atrapalhou tudo, estragou todos os planos deles, a companhia aérea não colaborou... Enfim, aquele estresse que ninguém merece passar!
Na irritação disso tudo e com toda a vontade de ir viajar na férias que só esses dois - pique invejável! - resolveram, literalmente um dia antes - vir passar uns dias aqui em Santiago conosco, até que os vôos pra NY estivessem normalizados!
Eu sou uma pessoa que gosta de rotina, planos, organização, mas não posso negar que algumas mudanças repentinas trazem resultados muito bons!
Eles vieram, ficaram 4 dias aqui com a gente, foram esquiar (a Lu adorou, o Breno odiou...rs), passearam por Santiago, conheceram e curtiram a Maní (e queriam levar ela embora com eles. hahaha), comeram bem e aproveitaram super esses dias que o furacão teria tirado das férias deles!
Esses sim são espertos!
Foi inesperado e rápido, mas super gostoso!!! Agora estão lá pras bandas de cima, curtindo a terra gringa!
E no sábado passado veio o Fernando que - olha que fofo - escolheu passar o aniversário dele aqui com a gente!!! Claaaaro que ele ganhou bolo e "cumpleaños feliz", né?! hehehe
Só ficou faltando a velinha, mas o isqueiro deu conta!
(modéstia à parte, o bolo ficou delicioso! hehehe)
Esse é outro animado: foi esquiar com o Lucas no primeiro dia aqui, ficou todo quebrado, mas no dia seguinte resolveu fazer um tour caminhando: foram 20 estações de metrô a pé!!!
O mais engraçado era ele andando pela casa no final do dia, todo encurvado e reclamando de dor a cada movimento! hahahaha
Como eu costumo dizer, visita é bom, mas de gente querida é melhor ainda!!!
Fernando foi embora hoje e agora estamos esperando as próximas reservas...
Quem é o próximo???
Beijos
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
"depois que eu me encontrar..."
Tô de mau humor. Tô de mau espírito. Tô de má vontade.
Pensei em escrever um daqueles textos auto-reflexivos pra aliviar, mas decidi livrar vocês do meu blábláblá reclamão. Pelo menos por hoje.
Pelo menos por hoje quero ficar quieta. Quero poder chorar se sentir vontade, sem ter que descobrir o porquê. Quero poder não sair na rua e não ver ninguém, pra não ter que fingir ser simpática, mas sem acabar ofendendo ninguém.
Quero ganhar colo sem que tenha feito por merecer (não hoje, ok?)
Não quero fazer nada e não quero ter que justificar meus não-quereres.
Hoje eu não tô nem pra mim, nem pro meu cão de amor e rabo balançante incondicionais.
Se quiser me encontrar hoje, procure num quarto escuro. Ou numa música bem alta. Ou dentro de um livro.
Estarei em um desses lugares me procurando também.
Pensei em escrever um daqueles textos auto-reflexivos pra aliviar, mas decidi livrar vocês do meu blábláblá reclamão. Pelo menos por hoje.
Pelo menos por hoje quero ficar quieta. Quero poder chorar se sentir vontade, sem ter que descobrir o porquê. Quero poder não sair na rua e não ver ninguém, pra não ter que fingir ser simpática, mas sem acabar ofendendo ninguém.
Quero ganhar colo sem que tenha feito por merecer (não hoje, ok?)
Não quero fazer nada e não quero ter que justificar meus não-quereres.
Hoje eu não tô nem pra mim, nem pro meu cão de amor e rabo balançante incondicionais.
Se quiser me encontrar hoje, procure num quarto escuro. Ou numa música bem alta. Ou dentro de um livro.
Estarei em um desses lugares me procurando também.
domingo, 4 de setembro de 2011
"nas pedras do seu próprio lar"
No sábado passado tivemos uma experiência super chilena, ou melhor, super chilote por aqui!
O Lucas trabalha com uma equatoriana, filha de chilenos, que morou no Brasil por um ano (fala o melhor português que já ouvi num estrangeiro) e namora um carioca - Contanza e Marcos.
Eles nos convidaram pra ir comer Curanto na Casa Chilote. Explico:
Chiloé é um arquipélago lá pro sul, que durante muito tempo ficou meio isolado e por isso tem uma cultura muito forte e muito própria. Eu conhecia a ilha e algumas histórias de suas tradições pois li, em junho, último livro da Isabel Allende, "El Cuarderno de Maya".
O livro conta (sem spoilers) a história de uma adolescente americana, de família de origem chilena, que vai morar em Chiloé. Além de ser ter a parte "romance interessante", o livro fala bastante sobre a cultura do lugar e as impressões dessa estrangeira chegando no Chile me amarraram por identificação...rs
A Casa Chilote é um casarão no centro de Santiago que serve como um centro cultural da Ilha aqui na capital, mas também é a moradia de jovens estudantes Chilotes que vem pra Santiago pra cursar a universidade.
Já o Curanto é uma comida super típica de Chiloé, que é preparada em um buraco no chão. Literalmente, cava-se um buraco, coloca-se toda a comida lá dentro - em camadas e em uma ordem certa - cobre-se (o fundo e o topo) com pedras super quentes e deixa-se ali cozinhando o dia inteiro!
O resultado é esse:
Nesse prato todo temos: mariscos, carne, frango, linguiça, chapalele (uma massa de farinha) e milcao (preparado com batatas cozidas e cruas, e outro ingredientes, como salsicha, linguiça...)
Esse copinho pequeno aí na foto é uma bebida quente feita com vinho, lembra bastante o vinho quente (ou quentão, sei lá, sempre confundo..hahaha).
A combinação de tudo isso é uma maravilha!!! Acho que nunca comi uma carne tão macia e saborosa na vida!! Muito boa mesmo!!!
Sou meio fresca pra comer (ok, MUITO fresca), e apesar de não ter adorado todas as coisas desse prato, provei tudo e foi uma experiência muito bacana!
E é tanta comida que eles entregam sacolinhas pra todo mundo "empacotar" o que sobrou e levar pra comer em casa!
(a xícara que está aí é um caldinho, basicamente o caldo em que tudo isso foi cozido. Os Chilotes nos disseram que é mais energético do que qualquer coisa, mas esse eu só provei mesmo..não deu pra encarar porque era gordura pura...rs)
Na verdade, a experiência completa foi super bacana!!! Chegamos na Casa Chilote graças a uma reserva feita em nome de uma tia da Contanza, que meio que faz parte da comunidade, mas estava doente e não nos acompanhou. E comunidade é a melhor palavra! Estavam lá vários Chilotes, pessoas com saudade de casa e dos sabores de casa, que se reunem uma vez por mês pra fazer esse Curanto.
Os jovens estudantes que moram ali são responsáveis pelo trabalho de garçons, as pessoas mais...digamos...tradicionais fazem a comida e todos se reúnem em uma noite de festa e muita comida!
É uma reunião do povo de Chiloé, mas gente de fora é muito bem vinda! Depois da comilança, um moço responsável pelo lugar subiu no palco e agradeceu todo mundo que estava ali. Falou de nomes importantes pro Chile - como um ex jogador de futebol de um dos maiores times daqui, nomes importantes de Chiloé - como a presidente da coorporação e de todos os amigos que haviam sido levados pra conhecer e compartilhar daquela cultura. O lugar estava cheio de velhinhos Chilotes, mas também estava cheio de estrangeiros: equador, guatemala, costa rica...e nós do Brasil, também fomos apresentados e recebemos nossa salva de palmas!!! hehehe
Aí começou a parte animada da festa! Primeiro, o respeitoso momento do Hino de Chiloé:
Músicas tradicionais daquelas "impossível ficar parado" e o pessoal super animado dançando um monte!!!
(sugiro prestar atenção no senhor que está à esquerda do vídeo, um italiano super animado!)
Teve o momento de cantar parabéns pros aniversariantes do mês:
(esse eu gravei pra vocês conhecerem o cumpleaños feliz)
E o momento da Cueca, dança tradicional chilena:
Segundo a história, a dança seria a representação de uma galinha se oferecendo pro galo, o galo tentando conquistar a galinha e ela se fazendo de difícil. Conseguem enxergar tudo isso na dança? hehehe
O casarão é super charmoso também! Mas faltou uma foto do lado de fora...
O mais bacana disso tudo é que não foi um passeio tipicamente turístico, estávamos no meio de Chilotes, num evento Chilote, feito pra eles matarem a saudade de casa!
Acho que esse é um dos melhores jeitos de se conhecer uma cultura de verdade - claro, nem se compara com o "estar lá" de verdade, mas comparando com um turismo tradicional...
Conversamos com algumas pessoas que estávamos na nossa mesa, todos de Chiloé, uma que morou muitos anos na Alemanha, ficou conversando com o Lucas em alemão e me lembrou algumas histórias do livro, sobre o momento atual da ilha que acaba fazendo com que todas as pessoas da ilha em idades produtivas saiam de lá pra ganhar a vida em outro lugar e ficam por lá as partes muito jovens ou muito velhas das famílias...
A tradição é tão forte que em algumas ilhas lá o comércio não existe, as coisas funcionam na base da troca!
A leitura da Allende, somada à essa experiência do sábado me deram muita vontade de ir ao lugar.
O povo da Ilha de Chiloé costuma dizer que antes de ser chilenos eles são Chilotes. Mas estando aqui no Chile não posso deixar de conhecer esse pedacinho de mundo, meio daqui e meio de si mesmo, não é?!
Ps.: Hoje soubemos que a tia da Constanza,que nos reservou o jantar, está no hospital, então, pensamentos positivos pra que ela melhore logo!!!!
(pronto, dívidas pagas. Já posso partir pros próximos textos...rs)
Beijos a todos!
O Lucas trabalha com uma equatoriana, filha de chilenos, que morou no Brasil por um ano (fala o melhor português que já ouvi num estrangeiro) e namora um carioca - Contanza e Marcos.
Eles nos convidaram pra ir comer Curanto na Casa Chilote. Explico:
Chiloé é um arquipélago lá pro sul, que durante muito tempo ficou meio isolado e por isso tem uma cultura muito forte e muito própria. Eu conhecia a ilha e algumas histórias de suas tradições pois li, em junho, último livro da Isabel Allende, "El Cuarderno de Maya".
O livro conta (sem spoilers) a história de uma adolescente americana, de família de origem chilena, que vai morar em Chiloé. Além de ser ter a parte "romance interessante", o livro fala bastante sobre a cultura do lugar e as impressões dessa estrangeira chegando no Chile me amarraram por identificação...rs
A Casa Chilote é um casarão no centro de Santiago que serve como um centro cultural da Ilha aqui na capital, mas também é a moradia de jovens estudantes Chilotes que vem pra Santiago pra cursar a universidade.
Já o Curanto é uma comida super típica de Chiloé, que é preparada em um buraco no chão. Literalmente, cava-se um buraco, coloca-se toda a comida lá dentro - em camadas e em uma ordem certa - cobre-se (o fundo e o topo) com pedras super quentes e deixa-se ali cozinhando o dia inteiro!
O resultado é esse:
Nesse prato todo temos: mariscos, carne, frango, linguiça, chapalele (uma massa de farinha) e milcao (preparado com batatas cozidas e cruas, e outro ingredientes, como salsicha, linguiça...)
Esse copinho pequeno aí na foto é uma bebida quente feita com vinho, lembra bastante o vinho quente (ou quentão, sei lá, sempre confundo..hahaha).
A combinação de tudo isso é uma maravilha!!! Acho que nunca comi uma carne tão macia e saborosa na vida!! Muito boa mesmo!!!
Sou meio fresca pra comer (ok, MUITO fresca), e apesar de não ter adorado todas as coisas desse prato, provei tudo e foi uma experiência muito bacana!
E é tanta comida que eles entregam sacolinhas pra todo mundo "empacotar" o que sobrou e levar pra comer em casa!
(a xícara que está aí é um caldinho, basicamente o caldo em que tudo isso foi cozido. Os Chilotes nos disseram que é mais energético do que qualquer coisa, mas esse eu só provei mesmo..não deu pra encarar porque era gordura pura...rs)
Na verdade, a experiência completa foi super bacana!!! Chegamos na Casa Chilote graças a uma reserva feita em nome de uma tia da Contanza, que meio que faz parte da comunidade, mas estava doente e não nos acompanhou. E comunidade é a melhor palavra! Estavam lá vários Chilotes, pessoas com saudade de casa e dos sabores de casa, que se reunem uma vez por mês pra fazer esse Curanto.
Os jovens estudantes que moram ali são responsáveis pelo trabalho de garçons, as pessoas mais...digamos...tradicionais fazem a comida e todos se reúnem em uma noite de festa e muita comida!
É uma reunião do povo de Chiloé, mas gente de fora é muito bem vinda! Depois da comilança, um moço responsável pelo lugar subiu no palco e agradeceu todo mundo que estava ali. Falou de nomes importantes pro Chile - como um ex jogador de futebol de um dos maiores times daqui, nomes importantes de Chiloé - como a presidente da coorporação e de todos os amigos que haviam sido levados pra conhecer e compartilhar daquela cultura. O lugar estava cheio de velhinhos Chilotes, mas também estava cheio de estrangeiros: equador, guatemala, costa rica...e nós do Brasil, também fomos apresentados e recebemos nossa salva de palmas!!! hehehe
Aí começou a parte animada da festa! Primeiro, o respeitoso momento do Hino de Chiloé:
Músicas tradicionais daquelas "impossível ficar parado" e o pessoal super animado dançando um monte!!!
Teve o momento de cantar parabéns pros aniversariantes do mês:
(esse eu gravei pra vocês conhecerem o cumpleaños feliz)
E o momento da Cueca, dança tradicional chilena:
Segundo a história, a dança seria a representação de uma galinha se oferecendo pro galo, o galo tentando conquistar a galinha e ela se fazendo de difícil. Conseguem enxergar tudo isso na dança? hehehe
O casarão é super charmoso também! Mas faltou uma foto do lado de fora...
O mais bacana disso tudo é que não foi um passeio tipicamente turístico, estávamos no meio de Chilotes, num evento Chilote, feito pra eles matarem a saudade de casa!
Acho que esse é um dos melhores jeitos de se conhecer uma cultura de verdade - claro, nem se compara com o "estar lá" de verdade, mas comparando com um turismo tradicional...
Conversamos com algumas pessoas que estávamos na nossa mesa, todos de Chiloé, uma que morou muitos anos na Alemanha, ficou conversando com o Lucas em alemão e me lembrou algumas histórias do livro, sobre o momento atual da ilha que acaba fazendo com que todas as pessoas da ilha em idades produtivas saiam de lá pra ganhar a vida em outro lugar e ficam por lá as partes muito jovens ou muito velhas das famílias...
A tradição é tão forte que em algumas ilhas lá o comércio não existe, as coisas funcionam na base da troca!
A leitura da Allende, somada à essa experiência do sábado me deram muita vontade de ir ao lugar.
O povo da Ilha de Chiloé costuma dizer que antes de ser chilenos eles são Chilotes. Mas estando aqui no Chile não posso deixar de conhecer esse pedacinho de mundo, meio daqui e meio de si mesmo, não é?!
Ps.: Hoje soubemos que a tia da Constanza,que nos reservou o jantar, está no hospital, então, pensamentos positivos pra que ela melhore logo!!!!
(pronto, dívidas pagas. Já posso partir pros próximos textos...rs)
Beijos a todos!
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
"e remove as montanhas com todo cuidado, meu amor"
Estou devendo dois post's pra vocês e vou sanar a dívida em ordem cronológica, portanto, hoje vou contar um pouco sobre a viagem para Portillo e Mendoza!
O passeio começou com um pequeno estresse pois as coisas se confundiram e perdemos o horário que havíamos marcado com o veterinário para deixar a Maní... depois da irritação, da solução, do trânsito e do aperto no coração na hora do tchau, a Maní ficou e eu e o Lucas saímos ao encontro dos outros companheiros de viagem. Eram eles:
- Duilio: também FuD, da mesma edição que o Lucas. Chegou no Chile um mês depois de nós e tem sido companheiro por aqui (a mãe dele até fez um strogonof delícia pra gente quando veio visitá-lo!!! hehehe)
- Ceschin - trabalha no Santander aí no Brasil e veio aproveitar o Chile pra fazer muito snowboard
- Raquel - amiga do Duilio, venho conhecer o Chile e aproveitar a hospitalidade do amigo....rs
Os três saíram de Santiago um pouco mais cedo e portanto puderam nos dar um pouco de instruções do caminho e conhecer antes de nós o excelente hotel que nos esperava!
Claaaarooo que o GPS tentou nos matar, mandando seguir reto numa ribanceira. E claro que nos perdemos algumas vezes! Em uma delas aproveitamos um pedágio pra pedir instruções, a moça super simpática nos disse que poderíamos fazer o "retorno" passando no meio de uns cones poucos metros à frente... o bizarro foi que depois de "retornar" voltamos, claro, pro mesmo pedágio, a mesma moça saiu na janela do outro lado e nos cobrou mais uma vez, com a maior naturalidade no "buenas noches"! hahaha
Em determinado momento falamos com o Duilio, que tinha acabado de chegar no hotel e, à nossa pergunta de "como é aí?" nos respondeu com um "só vendo!".
Ok, quando chegamos lá vimos e entendemos! Tínhamos reservado dois chalés em um hotel na parte baixa da montanha de Portillo, pra passar a noite por lá e chegar na manhã seguinte bem cedinho pra esquiar. Segundo o site do hotel, estaríamos nuns chalés super charmosos, com aqueles telhados inclinados cheios de neve e tal...
Qual não foi nossa surpresa quando, chegando lá, demos de cara com isso:
Um importante detalhe sobre essa estrada: ela passa pela Cordilheira dos Andes e as paisagens do caminho são as coisas mais lindas!!!!
Aí uma só curva e, puff!, neve!!
O passeio começou com um pequeno estresse pois as coisas se confundiram e perdemos o horário que havíamos marcado com o veterinário para deixar a Maní... depois da irritação, da solução, do trânsito e do aperto no coração na hora do tchau, a Maní ficou e eu e o Lucas saímos ao encontro dos outros companheiros de viagem. Eram eles:
- Duilio: também FuD, da mesma edição que o Lucas. Chegou no Chile um mês depois de nós e tem sido companheiro por aqui (a mãe dele até fez um strogonof delícia pra gente quando veio visitá-lo!!! hehehe)
- Ceschin - trabalha no Santander aí no Brasil e veio aproveitar o Chile pra fazer muito snowboard
- Raquel - amiga do Duilio, venho conhecer o Chile e aproveitar a hospitalidade do amigo....rs
Os três saíram de Santiago um pouco mais cedo e portanto puderam nos dar um pouco de instruções do caminho e conhecer antes de nós o excelente hotel que nos esperava!
Claaaarooo que o GPS tentou nos matar, mandando seguir reto numa ribanceira. E claro que nos perdemos algumas vezes! Em uma delas aproveitamos um pedágio pra pedir instruções, a moça super simpática nos disse que poderíamos fazer o "retorno" passando no meio de uns cones poucos metros à frente... o bizarro foi que depois de "retornar" voltamos, claro, pro mesmo pedágio, a mesma moça saiu na janela do outro lado e nos cobrou mais uma vez, com a maior naturalidade no "buenas noches"! hahaha
Em determinado momento falamos com o Duilio, que tinha acabado de chegar no hotel e, à nossa pergunta de "como é aí?" nos respondeu com um "só vendo!".
Ok, quando chegamos lá vimos e entendemos! Tínhamos reservado dois chalés em um hotel na parte baixa da montanha de Portillo, pra passar a noite por lá e chegar na manhã seguinte bem cedinho pra esquiar. Segundo o site do hotel, estaríamos nuns chalés super charmosos, com aqueles telhados inclinados cheios de neve e tal...
Qual não foi nossa surpresa quando, chegando lá, demos de cara com isso:
Sim, um container!!! Esse telhadinho que você vê na foto e de uma casa de trás; o nosso "chalé" era literalmente um container!!!! Era divido em dois então eu e o Lucas ficamos no da esquerda e os outros três no da direita.
Se alguém andava em um "quarto" sentia-se no outro! O frio que fazia ali era absurdo, mesmo com um ar condicionado que deveria aquecer até os 31 graus ligado! E o banheiro??? Dentro do box tinha uns fios de cabelo dos últimos hóspedes - juro!!! hahaha Fora a água fria, o vento que entrava sei lá eu de onde...enfim... esse começo de viagem foi tão emblemática que qualquer coisa que viesse depois seria vista com bons olhos!
Mas, ainda bem!, tudo que veio depois mereceu muito mais que bons olhos!
Conforme planejado, na manhã seguinte terminamos de subir a montanha e chegamos em Portillo. E, putz, que lugar lindo!!!
É uma das primeiras (senão a primeira, não estou segura) estações de esqui do Chile. É também uma das mais sofisticadas! Tem um hotel super bacana, onde váááários gringos de vários lugares diferentes se hospedam exclusivamente pra esquiar e as pistas são muito melhores do que aquelas que tem aqui pertinho de casa. Dizem os que esquiaram lá...rs
O Lucas foi todo preparado, comprou todo o equipamento de snowboard e estava cheio de energia! Eu... bom, eu até fui disposta a esquiar, mas quando cheguei lá e vi aquelas pessoas andando com aquelas botas desconfortáveis lembrei do aperto no meu pé, da dificuldade pra calçar e descalças a bota, pra andar e claro, pra esquiar..acabei desencanando...rs
(Aliás, desencanei tanto que resolvi comprar uma bota pra ficar passeando e brincando na neve nas próximas vezes que as outras pessoas forem esquiar, porque eu adoro o visual, adoro o frio, adoro a neve...mas odeio o "sofrimento" da minha incapacidade...hahahahha)
Como neste dia não estava com um sapato propício, acabei ficando fazendo companhia pra Raquel, que não podia esquiar...
Meio que, um pouco sem querer (só um pouco...hehehe) invadimos uns espaços do hotel que seriam só pra hóspedes e passamos a tarde curtindo a paisagem, o wi-fi, o conforto, o aquecedor...Delícia!!!
Por volta de umas 4 da tarde, os meninos já acabado de tanto esquiar, arrumamos as coisas e pegamos nosso caminho pra Mendoza!
Pra quem não sabe, Mendoza fica na Argentina e Portillo no meio do caminho pra fronteira. E falando em fronteira... ficamos quase 3 horas no carro pra conseguir entrar na Argentina! Muita fila, muito carro, muita gente, muuuuitaaa burocracia..carro revistado e tudo!
Como a estrada que nos esperava era mais perigosa, deixamos nosso carro lá em Portillo e fomos os 5 no carro do Duilio, que tem poderes especiais pra andar em gelo e neve e montanha e subida! rs
E fizemos uma baguncinha enquanto esperávamos tanto, né?!
Com toda a demora da Aduana, chegamos em Mendoza meio tarde, mas ainda precisávamos sair pra jantar e Duilio, Raquel e Ceschin ainda estavam animados pra uma balada.
Saímos pela cidade pra escolher um dos tantos RestoBar que tem por ali (restaurantes que depois de certo horário recolhem as mesas e viram uma balada)... até que descobrimos que aquele sábado era véspera de eleições na Argentina - no dia seguinte eles escolheriam os candidatos para as eleições do final do ano - e não só os lugares iam fechar todos cedo, como estava proibida a venda de bebidas alcoólicas! Os animados do grupo ficaram muito frustrados! Fala sério, isso lá é jeito de conhecer a noite de uma cidade, com todo mundo indo dormir cedo pra exercer a democracia no dia seguinte??? hahaha
Havia um RestoBar, que não tinha uma cara muito boa, mas que era o mais cheio da cidade..logo descobrimos o motivo: estavam vendendo cerveja escondido! hahaha Paramos pra jantar ali, claro! No final tivemos uma noite muito agradável e divertida! E esfomeada, porque a comida demorou infinitas horas pra chegar na mesa! Desconfio que mais de duas horas, juro! Mas ok...rs
No dia seguinte tomamos um café da manhã super charmosinho na calçada do hotel, com direito a muita media luna con dulce de leche argentino!!! Hmmmm!!!
E fomos prum passeio em uma vinícola que o Duílio tinha deixado reservado...
O passeio em si não foi nada demais... conhecemos uma forma mais industrial de fazer vinho, diferente das que nos mostram quando vamos por exemplo, aqui na Concha y Toro.
Mas especial mesmo foi o almoço de depois!!
No restaurante da própria vinícola, comemos absurdamente bem!!!
Era uma espécie de rodízio de carnes típicas argentinas, acompanhada por sopa e salada de entrada, sobremesa e vinhos de fabricação própria! Além da grande variedade e quantidade, era tudo muito bom!!! Fora o charme que era o lugar!
Dizem que Mendoza é um ótimo lugar pra comprar roupa de couro (melhor que Buenos Aires), mas infelizmente tudo estava fechado por causa das benditas eleições, assim que nos contentamos com umas comprinhas normais no shopping mesmo.
No meu caso, "comprinhas" quis dizer isso:
Hehehe!!! Não dá nem pra dizer que é sorvete de doce de leite, tá mais pra doce de leite congelado mesmo! Delícia!!!
Por lá conhecemos também o parque super lindo, andamos por umas ruas charmosas e pronto!
Na manhã seguinte acordamos cedo pra pegar a estrada de volta.
Um importante detalhe sobre essa estrada: ela passa pela Cordilheira dos Andes e as paisagens do caminho são as coisas mais lindas!!!!
Você vai andando...vendo a montanha chegar...
E se deparando com uns lugares maravilhosos assim:
Aí uma só curva e, puff!, neve!!
Já tinham me dito isso, e eu re-digo com toda certeza: a estrada é a parte mais legal da viagem!! É lindo ver as montanhas mudando de cor e de forma, várias manifestações surpreendentes da natureza, paisagens tão diferentes em um só caminho! A cada curva uma nova surpresa e emoção! Demais mesmo!!!
E foi assim que voltamos pra casa e terminamos nossa primeira grande aventura pelo território chileno!!! hahaha
(pra quem se interessar - e não tiver facebook - muito mais fotos da viagem nesse link aqui)
Foi ótimo conhecer mais desse país querido, o país vizinho, conhecer a Raquel e o Ceschin, passar mais tempo com o Duilio, e aproveitar esses lugares lindos com meu amore!!! Os lugares eram lindos, a comida muito boa e companhia uma delícia!
Deu vontade de viajar bem mais e já estamos planejando uma coisa super legal pra comemorar o aniversário de casamento!!!
Por hoje é isso..
Agora estou com preguiça até de revisar o que acabei de escrever, portanto, perdoem pequenos erros, me avisem sobre os grandes e esperem, que o post sobre a noite Chilote vem logo!
Beijos a todos!
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