domingo, 4 de setembro de 2011

"nas pedras do seu próprio lar"

No sábado passado tivemos uma experiência super chilena, ou melhor, super chilote por aqui!

O Lucas trabalha com uma equatoriana, filha de chilenos, que morou no Brasil por um ano (fala o melhor português que já ouvi num estrangeiro) e namora um carioca - Contanza e Marcos.
Eles nos convidaram pra ir comer Curanto na Casa Chilote. Explico:

Chiloé é um arquipélago lá pro sul, que durante muito tempo ficou meio isolado e por isso tem uma cultura muito forte e muito própria. Eu conhecia a ilha e algumas histórias de suas tradições pois li, em junho, último livro da Isabel Allende, "El Cuarderno de Maya".



O livro conta (sem spoilers) a história de uma adolescente americana, de família de origem chilena, que vai morar em Chiloé. Além de ser ter a parte "romance interessante", o livro fala bastante sobre a cultura do lugar e as impressões dessa estrangeira chegando no Chile me amarraram por identificação...rs

A Casa Chilote é um casarão no centro de Santiago que serve como um centro cultural da Ilha aqui na capital, mas também é a moradia de jovens estudantes Chilotes que vem pra Santiago pra cursar a universidade.

Já o Curanto é uma comida super típica de Chiloé, que é preparada em um buraco no chão. Literalmente, cava-se um buraco, coloca-se toda a comida lá dentro - em camadas e em uma ordem certa - cobre-se (o fundo e o topo) com pedras super quentes e deixa-se ali cozinhando o dia inteiro!
O resultado é esse:






Nesse prato todo temos: mariscos, carne, frango, linguiça, chapalele (uma massa de farinha) e milcao (preparado com batatas cozidas e cruas, e outro ingredientes, como salsicha, linguiça...)

Esse copinho pequeno aí na foto é uma bebida quente feita com vinho, lembra bastante o vinho quente (ou quentão, sei lá, sempre confundo..hahaha).

A combinação de tudo isso é uma maravilha!!! Acho que nunca comi uma carne tão macia e saborosa na vida!! Muito boa mesmo!!!
Sou meio fresca pra comer (ok, MUITO fresca), e apesar de não ter adorado todas as coisas desse prato, provei tudo e foi uma experiência muito bacana!
E é tanta comida que eles entregam sacolinhas pra todo mundo "empacotar" o que sobrou e levar pra comer em casa!



(a xícara que está aí é um caldinho, basicamente o caldo em que tudo isso foi cozido. Os Chilotes nos disseram que é mais energético do que qualquer coisa, mas esse eu só provei mesmo..não deu pra encarar porque era gordura pura...rs)

Na verdade, a experiência completa foi super bacana!!! Chegamos na Casa Chilote graças a uma reserva feita em nome de uma tia da Contanza, que meio que faz parte da comunidade, mas estava doente e não nos acompanhou. E comunidade é a melhor palavra! Estavam lá vários Chilotes, pessoas com saudade de casa e dos sabores de casa, que se reunem uma vez por mês pra fazer esse Curanto.
Os jovens estudantes que moram ali são responsáveis pelo trabalho de garçons, as pessoas mais...digamos...tradicionais fazem a comida e todos se reúnem em uma noite de festa e muita comida!

É uma reunião do povo de Chiloé, mas gente de fora é muito bem vinda! Depois da comilança, um moço responsável pelo lugar subiu no palco e agradeceu todo mundo que estava ali. Falou de nomes importantes pro Chile - como um ex jogador de futebol de um dos maiores times daqui, nomes importantes de Chiloé - como a presidente da coorporação e de todos os amigos que haviam sido levados pra conhecer e compartilhar daquela cultura. O lugar estava cheio de velhinhos Chilotes, mas também estava cheio de estrangeiros: equador, guatemala, costa rica...e nós do Brasil, também fomos apresentados e recebemos nossa salva de palmas!!! hehehe

Aí começou a parte animada da festa! Primeiro, o respeitoso momento do Hino de Chiloé:








Músicas tradicionais daquelas "impossível ficar parado" e o pessoal super animado dançando um monte!!!


(sugiro prestar atenção no senhor que está à esquerda do vídeo, um italiano super animado!)


Teve o momento de cantar parabéns pros aniversariantes do mês:
(esse eu gravei pra vocês conhecerem o cumpleaños feliz)



E o momento da Cueca, dança tradicional chilena:



Segundo a história, a dança seria a representação de uma galinha se oferecendo pro galo, o galo tentando conquistar a galinha e ela se fazendo de difícil. Conseguem enxergar tudo isso na dança? hehehe


O casarão é super charmoso também! Mas faltou uma foto do lado de fora...










O mais bacana disso tudo é que não foi um passeio tipicamente turístico, estávamos no meio de Chilotes, num evento Chilote, feito pra eles matarem a saudade de casa!
Acho que esse é um dos melhores jeitos de se conhecer uma cultura de verdade - claro, nem se compara com o "estar lá" de verdade, mas comparando com um turismo tradicional...

Conversamos com algumas pessoas que estávamos na nossa mesa, todos de Chiloé, uma que morou muitos anos na Alemanha, ficou conversando com o Lucas em alemão e me lembrou algumas histórias do livro, sobre o momento atual da ilha que acaba fazendo com que todas as pessoas da ilha em idades produtivas saiam de lá pra ganhar a vida em outro lugar e ficam por lá as partes muito jovens ou muito velhas das famílias...
A tradição é tão forte que em algumas ilhas lá o comércio não existe, as coisas funcionam na base da troca!
A leitura da Allende, somada à essa experiência do sábado me deram muita vontade de ir ao lugar.
O povo da Ilha de Chiloé costuma dizer que antes de ser chilenos eles são Chilotes. Mas estando aqui no Chile não posso deixar de conhecer esse pedacinho de mundo, meio daqui e meio de si mesmo, não é?!



Ps.: Hoje soubemos que a tia da Constanza,que nos reservou o jantar, está no hospital, então, pensamentos positivos pra que ela melhore logo!!!!



(pronto, dívidas pagas. Já posso partir pros próximos textos...rs)


Beijos a todos!



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