domingo, 3 de julho de 2011

"Para ver e mostrar o nunca visto; o bem e o mal, o feio e o bonito"

Alguns dias atrás pensei com um pouco de raiva, confesso, sobre essa mania que o cinema adquiriu de adaptar tudo que é livro que sai e faz sucesso.

Disse há uns meses que estava num período de leitura louca; pois o "período" virou quase permanente. Continuo lendo loucamente, um livro atrás do outro e do outro, do outro, do outro...
Independente dos motivos e interpretações disso, tem sido uma experiência ótima, acho que nunca li tanto e tenho aproveitado bastante.

Fui pro Brasil agora com uma mala grande um pouco vazia pra ter espaço pra trazer pra cá um monte de livros. Alguns que meus pais têm e que li durante toda a vida, achei que mereciam ser meus agora; fiz uma super compra num sebo, somei estes com alguns outros meus que já estavam lá e a mala veio cheia!

Pois bem, eu gosto de ler e eu gosto de ir no cinema. Mas as duas coisas separadamente!
Quando fui assistir o Budapeste, adaptação pro cinema do livro do Chico Buarque, dirigido pelo Walter Carvalho, lembro-me de ter sofrido fisicamente, de verdade!
Li o livro umas 8 vezes ou mais e ver na tela a "realização" de tudo que eu tinha construído e imaginado sozinha tantas vezes, foi literalmente doído. Tava tudo errado! Tudo! As imagens não batiam, os personagens não eram aqueles... nem os lugares (que eram reais no filme) eram os certos!!! Foi uma experiência horrível!

Hoje fui no cinema assistir "X-Man first class" e vi antes dele o trailer do último Harry Potter que está pra sair... As imagens de ambos são de tirar o fôlego, as produções muito boas e redondinhas, mas não pude deixar de pensar no esforço que o cinema faz pra colocar em imagem imagens que somos totalmente capazes de construir sozinhos. Pra quê?

Tantos efeitos, maquiagens e o caramba a quatro... pra quê?

A gente estuda no cinema aqueles filmes "clássicos", naturalistas que querem, mais do que tudo, representar o mundo "exatamente como ele é". 
Vi hoje na tela o cinema "fantástico", se aprimorando mais e mais pra tornar "reais" nossas imaginações, pra fazer "palpável" as fantasias "de cada um".
Aí tem o cinema simbólico, onírico, subjetivo... o que não quer reproduzir a realidade, mas sim expressar as partes "profundas do ser humano". Mais uma vez, tornar "concretos" na tela grande os sentimentos e situações que todo mundo tem dentro de si.

Sério, pra quê???

Sabe aquele discurso de que as pessoas estão mais burras e menos inventivas, já que as tecnologias de hoje em dia entregam tudo mastigado pra todos e ninguém tem que pensar muito?
Pois bem, acho que o cinema tem contribuído com a "planificação" de nossas mentes! Se está tudo lá, materializado, pra que sonhar? Pra que criar? Pra que gastar tempo lendo e imaginado, se depois alguém certamente vai colocar na tela tudo aquilo que você iria pensar sozinho antes (e desfazer suas imagens, colocando as que seriam a expressão da realidade)?

Pois é. Pra quê?

Claro que eu entendo a vontade que os cineastas têm de contar suas histórias e entendo que o cinema seja mais um meio de comunicação e expressão...
Mas ultimamente aquilo que seriam os grandes êxitos do cinema me dão uma preguiiiiiçaaaa....

Porque aquilo que "dá trabalho" nos meus amigos livros é tão mais estimulante! rs


Eu sei, eu sei...estou em crise com a escolha da profissão no audiovisual e isso explicaria a briga com o cinema... Eu sei, eu sei, é difícil separar as coisas... 
Mas falo sinceramente como leitora e espectadora, mais do que como "realizadora"; até porque tenho me saído melhor em pensar do que em realizar....


Desculpem o gostinho de amargura. Boa noite e ótima semana a todos!

(ps.: Título retirado de um discurso do cineasta Joaquim Pedro de Andrade, musicado pela Adriana Calcanhotto com o nome de "Por que você faz cinema?")


3 comentários:

  1. Ah! Se alguém quiser responder algum(ns) desses tantos "pra quês", vou gostar! rs

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  2. Oi Gabi, não sei responder suas perguntas, mas você propôs um tema e mais uma questão eu questionar e pensar sobre...Lembrei do primeiro livro que chorei um monte, sim isso mesmo,um monte.O livro foi Olga de Fernando Morais,li durante as férias da faculdade, e à noite quando saía com os amigos, tinha um que adorava escutar a "minha versão", as minhas fantasias com relação ao que eu lia duranrte o dia.Quando fui ao cinema assistir ao filme Olga, foi meio que decepcionante, confesso que chorei, mas ficava pensando no que faltou no filme...rs,Quem sabe vc vai ser crítica de cinema?Vai saber, acho legal!
    Beijos,
    Lidi

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  3. Nossa, Lidi, esse livro é muitooo bom!! Foi um dos primeiros a me encantar tb...
    Beijo!

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